sábado, 9 de maio de 2015

#NaPaula e suas duas barrigas...

Antes que você pense que sou uma criatura de outro planeta, disforme e estranha, o título do post se refere às minhas duas gestações. De nada. Bem, agora, dadas as devidas explicações, vamos ao texto.

Eu queria ser mãe de menino. Quando me casei (2000), eu e o digníssimo (à época) planejávamos ter logo um filho, mas as durezas do início do casamento (entenda parcelas e mais parcelas a serem pagas) adiaram os planos por um período, exatos 14 meses.

Após 3 alarmes falsos, estava grávida. Meu Deus, eu ia ser mãe. M-ã-e! Você não tem noção do que é ler o resultado 'POSITIVO'. Mesmo quando você quer muito, bate um gelo no corpo que nem se eu morasse no polo norte e resolvesse dar uma volta sem roupa ao redor do meu iglu não sentiria o mesmo 'frio'. Se você já passou por isso,sabe do que estou falando. Se não, pre-pa-ra!

Pois é. E tive o 'estalo' de estar grávida de maneira curiosa. Como disse, tive três alarmes falsos. Com apenas um dia de atraso da bendita menstruação, já saí ligando pra todo mundo, dizendo que a família estava aumentando, aquele fuzuê. E todo mundo comprando sapatinho pra me dar de presente e... alarme falso... Cuén Cuén Cuén... Na segunda vez, fiquei mais 'prudente': no terceiro dia de atraso, soei o alarme. E todo mundo comprando sapatinho pra me dar de presente e... alarme falso! Cuén Cuén Cuén... Na terceira vez, eu já não era mais tão ansiosa: dei a notícia com 7 dias de atraso! E todo mundo comprando sapatinho pra me dar de presente e... alarme falso! Cuén Cuén Cuén... Na quarta vez, com 15 dias a ver navios, fiquei na minha. Fui pra casa da minha sogra, almocei e, ao abrir a geladeira, vi um danoninho (ela sempre comprava essas coisas, mesmo não tendo mais criança em casa). Não tive dúvidas e mandei ver, e ele voltou com tudo na mesma velocidade que eu comi. Pensei: "agora eu tô grávida. Jamais, em sã consciência, eu vomitaria um danoninho". hahahahaha Pois bem... Contei pro futuro pai o ocorrido. Ele, já ressabiado, falou: "faz o exame amanhã". Fiz. E foi ele quem buscou o resultado. Quase morri de ansiedade o dia todo. Só iria saber às 17h. E, ao me ligar, ele disse: "parabéns, mamãe"...

Filipe a caminho! Eu com 8 meses...

Mamãe. Eu ia ser mamãe. Tudo mudaria radicalmente em mim. E mudou. Os enjôos, as náuseas, a barriga que crescia diante dos meus olhos. O primeiro chute dele. PAREMOS! Eu sempre quis e disse que seria mãe de menino. Muito antes de engravidar, eu comprei um conjunto de short e blusa de gola polo pro meu filho e ficava namorando aquela roupinha. Já grávida, amava ver tênis, bermudinhas, tudo de menino. E as pessoas diziam: "Ah, não faz assim. Se for menina,vai se sentir rejeitada,,," Eu nem ligava. Uma certeza uterina me dizia: "É menino!" E foi. No dia da ultra pra (tentar) ver o sexo, ele estava todo exibido. "É um meninão, mamãe, olha aqui os documentos", disse o médico, e eu não vendo nada hahahahaha. Mas tudo bem, a gente fica feliz do mesmo jeito. VOLTEMOS. Pois é... Os primeiros chutes, as mexidas de enlouquecer, os carinhos na barriga. Os planos de passeio que fazíamos, os desejos (eu amava comer pepino gelado, vai entender...). E 42 semanas depois, após agonizar por quase 12h, Filipe nasceu. Parto normal, como eu sempre pensei (mas não precisava ser do jeito que foi, isso é assunto para um outro post, me lembrem!!!), a dor que eu sequer poderia imaginar e a maior felicidade do mundo que só quem passa pela experiência sabe.

Meu filho, aquele ser que eu amava sem nunca ter visto, estava em meus braços. E agora, #NaPaula, cadê manual?!? O instinto o levou ao meu peito e eu senti o leite percorrendo seu caminho de vida. Eu alimentava o meu filho. É uma sensação indescritível, DOLOROSA, sim, mas MARAVILHOSA! Não desista no primeiro sangramento, na sua primeira ida à Lua sem equipamento, no bico quase pendurado. Passa, como tudo na vida. E vai virar história depois, como essa...

Meu primeiro mês como mãe foi tétrico e desesperador. Sabe aquela conversa de "dorme (quando grávida), depois você não vai saber mais o que é isso". VERDADE. Filipe era um bezerro. Mamava de 2h em 2h. Eu, que amava dormir, cochila no banho de 15min. Quando ele dormia, eu não sabia se fazia as coisas, chorava ou dormia. Enquanto eu pensava, ele acordava. Mas, como eu disse, TUDO passa, principalmente essa fase de adaptação entre mãe e filho.
Filipe com 9 meses. Praia de Copacabana, XGames


Ser mãe é maravilhoso? É, mas cansa. É uma delícia ver seu filho crescer, mudar... É, mas tem hora que você tem que sair de perto pra não arremessar o pequeno pra casa da avó. Filhos, ai, ai... um eterno aprendizado...

E, quando eu nem mais pensava na hipótese de engravidar, descobri que seria mãe novamente. No meio do maior turbilhão emocional da minha vida, quando tudo que julgava sólido se esfarelava e escorria pelos meus dedos, a certeza de que eu precisa ficar firme, pois havia mais dois motivos para isso. Não bastava estar grávida: tinha que ser gemelar. GEMELAR. DOIS. UM + UM. PAUSA AQUI. Três meses antes de saber da minha gravidez, Beth, minha irmã do coração e integrante da minha equipe de trabalho, descobre que está grávida... de gêmeos. E o engraçado que, antes dela fazer a ultra, a gente falava que seria um casal. E, quando ela soube que era tudo que a gente sempre falou, ela disse que o primeiro pensamento dela foi: "Eu vou matar as meninaaaaas" hahahaha VOLTEMOS... Pois é... Eu ri da Beth. E fiquei grávida de gêmeos (se você está rindo agora, cuidado!). Na verdade, gêmeas...

Se eu fiquei feliz? Não. Se dei pulos de alegria? Não. Eu só chorava. Tinha meus motivos. Egoístas, claro, mas eram os meus motivos naquele momento. Não me culpo, eu estava sem chão. E me orgulho de mim por ter passado tudo que passei e estar de pé hoje. Mas, óbvio, não fiz essa caminhada por mérito meu, por ser 'sinistra', porque era "a fortona". DEUS (acredite você nEle ou não) foi quem me segurou durante todos aqueles dias. Dia a dia, um dia de cada vez, cada vez um dia... No(s) dia(s) que eu quis morrer, ELE estava lá. Nos dias que eu dizia: não consigo mais... ELE estava lá. A cada novo golpe, ELE me dizia: levanta e anda... E, quando eu não aguentava levantar, ELE me tomava pelas mãos. ELE viu todas as lágrimas que eu derramei: porque ELE as colheu na palma da SUA mão. ELE ouviu cada grito que eu dei. ELE ouviu as palavras que eu não dizia. ELE leu os bons e maus pensamentos que tive. ELE foi a mão na minha barriga. ELE foi o apoio. ELE foi o companheiro dos dias sombrios. Não foram dias fáceis, não me julgue. E se julgar, você nunca será juiz sobre a minha causa... 

Minhas jaguatiricas ainda na toca
No quarto mês de gestação, descubro que Gui e Edu (Guilherme e Eduardo) eram, na verdade, Nanda e Duda (Fernanda e Eduarda). Todos os planos que fiz, Deus desfez. Todas as hipóteses que levantava, ELE jogava por terra. Todos os traumas que tinha, ELE curou, inclusive o de ser mãe de meninas. (Denise, Beth e Rocha: vocês estão vindo em meu pensamento agora. Amo vcs!). E o processo começou quando ouvi o coração delas naquele ultrassom e terminou quando as vi, em meus braços, pela primeira vez. O amor, realmente, tudo cura...
Nanda e Duda: primeiro dia em casa...

Duas gestações. Duas 'barrigas'. Dois momentos distintos. Mas nada, NADA mesmo, nada do que vivi, senti ou sofri é capaz de fazer com que eu pense em não ter os meus filhos. Não me imagino sem os três. Não me imagino sem Nanda e Duda, anjos que vieram resgatar o melhor que havia em mim. Quando eu era rio seco, elas chegaram pra me encher de vida. Não fui eu que dei à luz a elas: elas trouxeram a luz de volta pra mim... Amo meus filhos com tudo o que há em mim. Filipe, meu companheiro, alçado ao posto de "homem da casa" tão cedo: mamãe te ama. Perdoe-me pelos dias que não dei o carinho de que você precisava. Se não fui presente, quando você queria. As mães erram. Erramos muito. Você foi, muitas vezes, o colo que eu não tinha. O carinho nos meus cabelos... Vivemos juntos coisas que ninguém sabe e nem saberá. Obrigada por ter segurado as minhas mãos no deserto. Nanda e Duda estarão protegidas quando eu não mais for a proteção que eu julgo ser pra elas.

Filhas... Um dia, vocês lerão essa história. Mas já saberão dela, porque nunca vamos ter segredos. Hoje, sou eu quem penteio o cabelo de vocês, mas chegará o dia em que o bebê serei eu. A mamãe é turrona, tenham paciência. Eu gosto de escolher as minhas roupas, mesmo que vocês achem que nada combina com coisa alguma (Eu nunca liguei pra moda mesmo...). Deixem meu perfume por perto, aquele que eu nem sei mais se fazem... Eu durmo com a janela aberta! Continuo gostando de cafuné e massagem nos pés. Uso dois travesseiros pra dormir. Gosto de água quentinha e amo ver o mar...

Duas barrigas. Duas gestações. E um amor que será pra sempre. Sempre.

#FelizDiaDasMães 

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segunda-feira, 4 de maio de 2015

Há um Ernani perto de você...

Certa vez, trabalhei em uma pequena empresa de Engenharia. Foi lá que fiquei conhecendo um rapaz chamado Mauro. Ele era grandalhão e gostava de fazer brincadeiras com os outros, sempre pregando pequenas peças. Havia também o Ernani, que era um pouco mais velho que o resto do grupo. Sempre quieto, inofensivo, à parte, Ernani costumava comer o seu lanche sozinho, num canto da sala. Ele não participava das brincadeiras que fazíamos após o almoço, sendo que, ao terminar a refeição, sempre sentava sozinho debaixo de uma árvore mais distante.


 Devido a esse seu comportamento, Ernani era o alvo natural das brincadeiras e piadas do grupo. Ora ele encontrava um sapo na marmita, ora um rato morto em seu chapéu. E o que achávamos mais incrível é que ele sempre aceitava aquilo sem ficar bravo. Em um feriado prolongado, Mauro resolveu ir pescar no Pantanal. Antes, nos prometeu que, se conseguisse sucesso, iria dar um pouco do resultado da pesca para cada um de nós.

No seu retorno, ficamos todos muito animados quando vimos que ele havia pescado alguns dourados enormes. Mauro, entretanto, levou-nos para um canto e nos disse que tinha preparado uma boa peça para aplicar no Ernani. Mauro dividira os dourados, fazendo pacotes com uma boa porção para cada um de nós. Mas, a 'peça' programada era que ele havia separado os restos dos peixes num pacote maior, à parte. - 'Vai ser muito engraçado quando o Ernani desembrulhar esse 'presente' e encontrar espinhas, peles e vísceras!', disse-nos Mauro, que já estava se divertindo com aquilo. Mauro então distribuiu os pacotes no horário do almoço. Cada um de nós, que ia abrindo o seu pacote contendo uma bela porção de peixe, então dizia: - 'Obrigado!'.

Mas o maior pacote de todos, ele deixou por último. Era para o Ernani. Todos nós já estávamos quase explodindo de vontade de rir, sendo que Mauro exibia um ar especial, de grande satisfação. Como sempre, Ernani estava sentado sozinho, no lado mais afastado da grande mesa. Mauro então levou o pacote para perto dele, e todos ficamos na expectativa do que estava para acontecer. Ernani não era o tipo de muitas palavras. Ele falava tão pouco que, muitas vezes, nem se percebia que ele estava por perto. Em três anos, ele provavelmente não tinha dito nem cem palavras ao todo. Por isso, o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa. 

Ele pegou o pacote firmemente nas mãos e o levantou devagar, com um grande sorriso no rosto. Foi então que notamos que seus olhos estavam brilhando. Por alguns momentos, o seu pomo de Adão se moveu para cima e para baixo, até ele conseguir controlar sua emoção. 'Eu sabia que você não ia se esquecer de mim', disse com a voz embargada. - 'Eu sabia, você é grandalhão e gosta de fazer brincadeiras, mas sempre soube que você tem um bom coração'. Ele engoliu em seco novamente, e continuou falando, dessa vez para todos nós: 'Eu sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi por má intenção. Sabem... Eu tenho cinco filhos em casa, e uma esposa inválida, que há quatro anos está presa na cama. E estou ciente de que ela nunca mais vai melhorar. Às vezes, quando ela passa mal, eu tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela. E a maior parte do meu salário tem sido para os seus médicos e os remédios. As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa. Vocês talvez achem esquisito que eu vá comer o meu almoço sozinho, num canto... Bem, é que eu fico meio envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche. Ou, como hoje, eu tinha somente uma batata na minha marmita. Mas eu quero que saibam que essa porção de peixe representa, realmente, muito para mim. Provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, porque hoje à noite os meus filhos...', ele limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos. - 'Hoje à noite os meus filhos vão ter, realmente, depois de alguns anos...' e ele começou a abrir o pacote...

Nós tínhamos estado prestando tanta atenção no Ernani, enquanto ele falava, que nem havíamos notado a reação do Mauro. Mas agora, todos percebemos a sua aflição quando ele saltou e tentou pegar o pacote das mãos do Ernani. Mas era tarde demais. Ernani já tinha aberto o pacote e estava, agora, examinando cada pedaço de espinha, cada porção de pele e de vísceras, levantando cada rabo de peixe. Era para ter sido tão engraçado, mas ninguém riu. Todos nós ficamos olhando para baixo. E a pior parte foi quando Ernani, tentando sorrir, falou a mesma coisa que todos nós havíamos dito anteriormente: - 'Obrigado!'.


Em silêncio, um a um, cada um dos colegas pegou o seu pacote e o colocou na frente do Ernani, porque depois de muitos anos nós havíamos, de repente, entendido quem era realmente o Ernani. Uma semana depois, a esposa de Ernani faleceu. Cada um de nós, daquele grupo, passou então a ajudar as cinco crianças. Graças ao grande espírito de luta que elas possuíam, todas progrediram muito: Carlinhos, o mais novo, tornou-se um importante médico. Fernanda, Paula e Luisa montaram o seu próprio e bem-sucedido negócio: elas produzem e vendem doces e salgados para padarias e supermercados. O mais velho, Ernani Júnior, formou-se em Engenharia; sendo que, hoje, é o Diretor Geral da mesma empresa em que eu, Ernani, e os nossos colegas trabalhávamos.

Mauro, hoje aposentado, continua fazendo brincadeiras; entretanto, são de um tipo muito diferente: ele organizou nove grupos de voluntários que distribuem brinquedos para crianças hospitalizadas e as entretêm com jogos, histórias e outros divertimentos.
Às vezes, convivemos por muitos anos com uma pessoa, para só então percebermos que mal a conhecemos. Nunca lhe demos a devida atenção; não demonstramos qualquer interesse pelas coisas dela; ignoramos as suas ansiedades e os seus problemas. Lembre-se: há um Ernani perto de você!

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Eu recebi esse texto em 2007, via Orkut (crianças, Orkut era o Facebook da minha época!). Foi como tomar um soco no estômago. Li várias vezes e chorei. Até hoje, ele me emociona profundamente. Não sei se é verídico, não sei a quem imputar a autoria, só sei que ele é extremamente verdadeiro no que diz. Pode haver um Ernani ao nosso lado agora, Ou, quem sabe, por caminhos que a vida toma, o Ernani somos nós...

Que estejamos atentos aos que nos rodeiam. E que não sejamos nós a distribuir vísceras e espinhas por onde passamos.

Bjs da #NaPaula


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