terça-feira, 22 de setembro de 2015

#NaPaula, o bilhete e o livro

Eu tinha 9 anos quando entrei sozinha em um ônibus pela primeira vez. Minha mãe estava muito doente, e não havia alguém em que ela confiasse para ir ao banco sacar dinheiro e resolver um problema em sua conta. Fone fácil? Disque-banco? Não, não tinha. Era 1984, meu bem, aquele ano que você só conhece de ouvir falar, láaaaaa atrás!


Pois bem... Em uma folha de caderno, ela anotou tudo que eu precisaria saber: o número do ônibus que eu deveria pegar, seu trajeto , os pontos de referência para eu ir me orientando, onde descer, como chegar ao banco, com quem eu deveria falar e o que eu precisaria dizer.
Mesmo estando tudo ali escrito, ela repetiu t-u-d-o olhando pra mim, perguntando, entre uma frase e outra, se eu estava entendendo e ainda me fez repetir t-u-d-o ao final. Quando eu terminei de falar o que ela queria ouvir, me deu um beijo, se despediu de mim e me passou as últimas recomendações (que não estavam no papel), olhando bem dentro dos meus olhos: “Não fale com estranhos. Não sorria. Não aceite nada na rua. Se achar que está perdida, procure um jornaleiro ou um policial, mas não faça cara de perdida, apenas confirme o endereço. Agora, vai”.
Como o mundo era enorme sem um adulto por perto. Papelzinho agarrado na mão, uma bolsinha a tiracolo com o telefone da vizinha, fichas (siiiiim, sou da época do orelhão com fichaaaaas!), cartão do banco da minha mãe, dinheiro para ir e voltar e um extra para água, se precisasse. E lá fui eu.


PAUSA: Sou mãe de duas meninas com pouco mais de 1 ano e de um menino com 13. Meu coração aperta quando ele está na rua (e ele tem celular), imagino como ficou minha mãe naquele dia. Não havia celular, pager, comunicador, rádio transmissor, nada que ela pudesse se comunicar comigo. Peeensa!


Bem... Entrei no ônibus que ela havia indicado. Acompanhei o trajeto via papelzinho. Tudo batia. No ponto indicado, desci e segui rumo ao banco. Quando lá cheguei, procurei o gerente e contei exatamente o que eu havia ido fazer. Claro que ele fez cara de susto, mas me atendeu com todo carinho e cuidado. Na bolsa, minha mãe havia assinado, em um outro pedaço de papel, o nome dela, para que o gerente soubesse que ela era ela (sei lá se isso era necessário, mas entreguei como ela havia pedido). Problema resolvido, dinheiro em mãos, voltei pra casa.


Não me lembro se senti medo fazendo essa tarefa que minha mãe havia pedido. Mas lembro muito bem de todas as recomendações dela. Inclusive, até hoje, se me sinto perdida, procuro um jornaleiro ou um policial, obviamente, sem fazer cara de quem não sabe onde está rs. E isso tudo só me faz lembrar de uma coisa: se minha mãe, mesmo me amando muito e sabendo de todos os riscos que eu poderia correr, me disse “vai” – e eu fui -, agarrada apenas a um papel, confiando cegamente em todas as suas recomendações, por que temos dificuldade em ouvir e obedecer a Deus, quando, muito mais que um papelzinho, há um livro de boas recomendações para que possamos seguir? Ele também nos ama, mesmo quando nos manda por um caminho que, ao nosso ver, não parece seguro.


Confia no “vai” de Deus. Não se prenda às suas próprias regras, aos seus “bilhetes”, às suas normas. Se Ele disse pra você ir, Ele já preparou o caminho. Segure na mão dEle e vai!



Boa viagem!

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