quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Porque você não merece saber...

Eu havia excluído seu número da minha agenda de contatos: queria evitar ficar abrindo sua tela, procurando pelo "visto por último", mais conhecido por "nem me chamou, quando entrou da última vez".

Mas, hoje, especialmente hoje, senti vontade de te "ver". Não adiantou fingir que não sabia seu número de cor: em segundos, os dedos apressados trataram de trazer você de volta pro meu mundo. "Salvar". E lá estava você... Online! Com quem? Há quanto tempo? Deu raiva. Abri sua foto. Graças a Deus, com a nova atualização do app, não corro mais o risco de te ligar sem querer ao ampliar você na tela do celular. Quem nunca passou por esse vexame, não é mesmo?

Reparei na foto nova. Você continua com aquele sorriso lindo, que nem parecia que iria desgraçar minha cabeça... Continua online... Aperto os dedos, como se dissesse a eles: “mas nem pensar! Te arranco antes de você mandar um "oi". 

Fechei os olhos pra te ver... E, de repente, lá estava você à minha frente. Sorri. Você chegou perto. Senti o cheiro da pele, passei a mão nos seus cabelos...


- Não vai dizer nada?, você perguntou.
- Abaixei os olhos rapidamente, como se tentasse fugir. E disse: “Sinto sua falta... Sinto falta do tempo que a gente perdia falando nada com coisa alguma. Você ainda se lembra? Sinto falta de ouvir sua voz pelo áudio e de rir dos seus erros de digitação, culpa do corretor, lógico. Sinto falta da nossa hora marcada do "bom dia". Do "já vai almoçar?". E até do "vou dormir mais cedo". Sinto falta... Sinto falta das músicas que você me mandava, do "vi isso e me lembrei de você", do seu "queria te ver"...

Abro os olhos, na esperança de te ver de verdade. Olho para o celular: você não está mais online. Espero. Você não volta. Espero mais: nem sinal. Respiro fundo. Olho sua foto mais uma vez, a última, quem sabe... "Ah, esse sorriso..." Vou lá no seu registro, clico em "excluir número". Claro que penso 45.558 vezes milisegundos antes, mas excluo.

Sim, eu sinto sua falta. Sinto saudade. Muita. Mas você não precisa saber. Você jamais saberá.

Beijos, meu lindo. Boa noite...


Escrito ao som de Eu não sei dançar (Marina Lima)





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Quando ela decidiu que era hora de ir...

A mão já está na maçaneta. Nas suas costas, a velha mochila, companheira de tantas aventuras. Ela abaixa a cabeça, como que resignada. "É o melhor a fazer", ela pensa, ao dar uma longa respirada. 

O lugar não lhe pertence mais, apesar da casa ser dela, ter seus móveis e suas impressões digitais em todos os lugares. Mas ela não mora mais ali emocionalmente. Havia chegado o dia de ir. A decisão ela tomou ontem, quando viu que o brilho do olhar dele já não era mais só para ela. Quando ela percebeu que havia dado a ele os seus melhores anos, ela chorou. Ele não havia merecido nenhum deles. Tudo que sonharam, tudo que construíram, tudo que desejavam... Tudo estava sendo colocado naquela gaveta chamada "nunca mais". E ela chorou de novo. De raiva, de ódio, de dor, de decepção, por frustração. Por indignação!

Como havia permitido que ele dominasse a sua vida de tal maneira que ela se esquecera de viver também para ela?!? E agora, como recuperar o tempo perdido com seu amor próprio? Como recuperar o sorriso de volta? Como?

Ela não sabia as respostas, nem sabia se queria sabê-las. A porta está ali à sua frente, a mão continua na maçaneta. Tantas dúvidas: para onde ir? Vai dar certo? O que vão dizer? O peso do novo a assustava, saber o que tinha que ser feito também. 

Então, cansada de postergar a sua felicidade, ela abriu a porta e saiu. E, a passos lentos, ela desapareceu no horizonte, e nunca mais ouviram falar dela. Não daquela mulher que saíra pela porta, porque aquela não existe mais.

Dizem que viram a "nova ela" por aí, de sorriso no rosto, de batom vermelho, cabelo lavado, usando roupas de cor. Ela esconde as feridas ainda, é verdade. Há muitas! Mas ela sabe que, em breve, serão apenas cicatrizes, e cicatrizes servem para mostrar que passamos pela guerra, nos machucamos mortalmente, mas sobrevivemos e estamos de pé para continuar a nossa história.

Livre, leve e feliz. Porque ser feliz é o que realmente importa! E ela sabe disso...


Escrito ao som de Futuros amantes (Não se afobe, não, que nada é pra já) - Chico Buarque, para uma pessoa especial, mas com muito de mim também...


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