terça-feira, 28 de abril de 2015

Se não fosse aquele dia...

Há quase um ano escrevi o texto que você lerá abaixo. Dizem que precisamos ter assuntos definitivos, aqueles dos quais falamos uma vez só e nunca mais depois. Eles precisam "morrer", para que não nos tornemos "viúvos de parceiro vivo", ou seja: para que não choremos sempre e enlutados sejamos por algo que precisa ser 'enterrado'.

De uma certa forma, concordo. Cada um sabe tratar de sua dor e caso de um jeito. Há os que gostam de falar, porque assim, imagino eu, fazem uma verdadeira verborragia, e o assunto se esgota, se esvai. Outros, nada falam. Preferem remoer as próprias palavras, num eterno ruminar de sílabas, frases, sons, perguntas e respostas.

Eu fico no meio termo: ora falo o que não precisa ser dito; ora engulo aquilo que precisaria falar. Um dia eu aprendo. Um dia aprendemos todos. É assim, não é? Pois é... Então.

Eu publiquei esse texto no ~feice~, mas quero deixá-lo registrado aqui também. Me emocionei ao lê-lo novamente. Uma droga. Talvez porque o texto, mesmo em terceira pessoa, seja eu como pessoa inteira.

Boa leitura.

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Eram 9h quando ela acordou. Naquela manhã, o dia estava inacreditavelmente lindo. O céu azul e um sol sorridente davam de ombros para a véspera chuvosa e fria.

Ao se espreguiçar lentamente, um filme foi passando pela sua cabeça. Tantos anos à espera daquele dia e ele estava ali, pronto para ser vivido.

Ao seu lado, pendurado na porta do guarda-roupa, um longo vestido branco a lembrava de que aquele dia seria único e especial. Era 15 de julho.

As horas passaram vagarosamente rápidas e rapidamente devagar. Ela estava ansiosa. E feliz, Incrivelmente feliz.

Quando deu a sua hora, lá foi ela. A cada passo, o coração acelerava cada vez mais. Um leve torpor a lembrou de algumas quedas de pressão. Mas ela aguentou firme. "Hoje, não!", pensou. As mãos mal conseguiam segurar o buquê: tremiam. Dizem que ninguém percebeu.

E, quando os seus olhos se encontraram com os olhos do seu par, ah, ela sorriu o sorriso mais lindo daquela noite. Talvez tenha sido o sorriso mais bonito que ela já tenha dado... E ouviu alguém dizer pra ele: "Aproveita esse amor".


Mãos dadas. A voz embargada. Os olhos que insistiam em virar oceano. O sim, O beijo. A festa. As fotos. A despedida. O encontro. O amor.

E foi esse amor, cultivado através do tempo, que a fez forte para aguentar os dias mais difíceis. Foi o amor que a fez serena nos dias de mar revolto. E foi o amor que a fez ter fé quando  todos duvidavam. Foi o seu amor.

E esse amor seria eterno. Seria eterno o seu amor, se não fosse aquele dia. E, quando aquele dia chegou, sumiram os sonhos, as mãos sempre juntas, os beijos de bem-querer, o olho no olho. Sumiram os planos, as certezas, o trilhar do caminho. Naquele dia, sumiram o chão e o ar. Sumiram o sorriso, a esperança e a alegria. Tudo sumiu naquele dia.

Mas o tempo passou.

E voltaram alguns sonhos. O chão também voltou. O ar está de volta. Os planos, sim. O sorriso ainda não.

Quando o mundo dá a sua volta e traz com ele o dia 15 novamente, ela faz que não vai lembrar. Mas esquece de esquecer. E, ao lembrar, a memória lhe traz o barulho da festa, o som dos sorrisos felizes, o cheiro das flores, a visão do amor que seria pra sempre, se não fosse aquele dia...

Furtivamente, uma lágrima cai, e as imagens somem, uma a uma. Ela pensa em tocá-las, na tentativa de viver aquele dia mais uma vez. Mas aquele dia já não existe mais. Nem o amor. O amor que ainda estaria aqui, se não fosse aquele dia...

Arquivo pessoal

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2 Comentários:

Às 28 de abril de 2015 às 22:18 , Blogger Unknown disse...

Parece que escreveu a minha história... me fez lembrar "aquele dia", sentir cheiros há tempos "esquecidos ", me arrancou lágrimas e sorrisos ao mesmo tempo... voltei ao tempo...

 
Às 30 de abril de 2015 às 15:52 , Blogger Unknown disse...

É incrível como a geografia e o passar do tempo não apagam certas sensações... eu tinha a triste certeza de que você ainda carregava esse fardo, o qual não te pertence (mas eu sei como é difícil abrir mão de algo que teima em grudar na gente), mas eu creio que você não foi forjada para estar longe daquele sorriso mais sincero. A amargura não combina com você, a sequidão não é a tua casa... você é muito maior do que tudo isso e ainda há de viver o melhor de Deus nesta terra. Amo você, miga!

 

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