Quando ela decidiu que era hora de ir...
A mão já está na
maçaneta. Nas suas costas, a velha mochila, companheira de tantas aventuras.
Ela abaixa a cabeça, como que resignada. "É o melhor a fazer", ela
pensa, ao dar uma longa respirada.
O lugar não lhe pertence mais, apesar da casa
ser dela, ter seus móveis e suas impressões digitais em todos os lugares. Mas
ela não mora mais ali emocionalmente. Havia chegado o dia de ir. A decisão ela
tomou ontem, quando viu que o brilho do olhar dele já não era mais só para ela. Quando ela percebeu que havia dado a ele os seus melhores
anos, ela chorou. Ele não havia merecido nenhum deles. Tudo que sonharam, tudo
que construíram, tudo que desejavam... Tudo estava sendo colocado naquela gaveta
chamada "nunca mais". E ela chorou de novo. De raiva, de ódio, de
dor, de decepção, por frustração. Por indignação!
Como havia permitido que ele dominasse a sua vida de tal
maneira que ela se esquecera de viver também para ela?!? E agora, como recuperar
o tempo perdido com seu amor próprio? Como recuperar o sorriso de volta? Como?
Ela não sabia as respostas, nem sabia se queria sabê-las. A
porta está ali à sua frente, a mão continua na maçaneta. Tantas dúvidas: para onde
ir? Vai dar certo? O que vão dizer? O peso do novo a assustava, saber o que tinha que ser feito
também.
Então, cansada de postergar a sua felicidade, ela abriu a
porta e saiu. E, a passos lentos, ela desapareceu no horizonte, e nunca mais ouviram falar
dela. Não daquela mulher que saíra pela porta, porque aquela não existe mais.
Dizem que viram a "nova ela" por aí, de sorriso
no rosto, de batom vermelho, cabelo lavado, usando roupas de cor. Ela esconde as
feridas ainda, é verdade. Há muitas! Mas ela sabe que, em breve, serão apenas
cicatrizes, e cicatrizes servem para mostrar que passamos pela guerra, nos
machucamos mortalmente, mas sobrevivemos e estamos de pé para continuar a nossa
história.
Livre, leve e feliz. Porque ser feliz é o que realmente importa! E ela sabe disso...
Escrito ao som de Futuros amantes (Não se afobe, não, que nada é pra já) - Chico Buarque, para uma pessoa especial, mas com muito de mim também...
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