quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Quando ela decidiu que era hora de ir...

A mão já está na maçaneta. Nas suas costas, a velha mochila, companheira de tantas aventuras. Ela abaixa a cabeça, como que resignada. "É o melhor a fazer", ela pensa, ao dar uma longa respirada. 

O lugar não lhe pertence mais, apesar da casa ser dela, ter seus móveis e suas impressões digitais em todos os lugares. Mas ela não mora mais ali emocionalmente. Havia chegado o dia de ir. A decisão ela tomou ontem, quando viu que o brilho do olhar dele já não era mais só para ela. Quando ela percebeu que havia dado a ele os seus melhores anos, ela chorou. Ele não havia merecido nenhum deles. Tudo que sonharam, tudo que construíram, tudo que desejavam... Tudo estava sendo colocado naquela gaveta chamada "nunca mais". E ela chorou de novo. De raiva, de ódio, de dor, de decepção, por frustração. Por indignação!

Como havia permitido que ele dominasse a sua vida de tal maneira que ela se esquecera de viver também para ela?!? E agora, como recuperar o tempo perdido com seu amor próprio? Como recuperar o sorriso de volta? Como?

Ela não sabia as respostas, nem sabia se queria sabê-las. A porta está ali à sua frente, a mão continua na maçaneta. Tantas dúvidas: para onde ir? Vai dar certo? O que vão dizer? O peso do novo a assustava, saber o que tinha que ser feito também. 

Então, cansada de postergar a sua felicidade, ela abriu a porta e saiu. E, a passos lentos, ela desapareceu no horizonte, e nunca mais ouviram falar dela. Não daquela mulher que saíra pela porta, porque aquela não existe mais.

Dizem que viram a "nova ela" por aí, de sorriso no rosto, de batom vermelho, cabelo lavado, usando roupas de cor. Ela esconde as feridas ainda, é verdade. Há muitas! Mas ela sabe que, em breve, serão apenas cicatrizes, e cicatrizes servem para mostrar que passamos pela guerra, nos machucamos mortalmente, mas sobrevivemos e estamos de pé para continuar a nossa história.

Livre, leve e feliz. Porque ser feliz é o que realmente importa! E ela sabe disso...


Escrito ao som de Futuros amantes (Não se afobe, não, que nada é pra já) - Chico Buarque, para uma pessoa especial, mas com muito de mim também...


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