O dia que a morte sentou-se ao meu lado...
Eu não me lembro qual dia da
semana era, nem exatamente em que data foi, mas me lembro bem do ano: 2013. Eu
estava vivendo um momento terrível, talvez o pior de tudo que vivi e que me
lembre de ter vivido até aqui. Estava há dias sem dormir direito, ia para o
trabalho no automático, chorava o dia inteiro e só queria dar um jeito de não
sentir mais aquela dor terrível que me consumia minuto a minuto. E não: não
estou exagerando, não estou poetizando, não estou floreando o pavão. O que
conto aqui e relato abaixo é absolutamente verdadeiro e sincero.
Apesar de ter várias pessoas ao
meu lado naquele momento, eu me sentia absurdamente só. Por mais palavras de
ânimo que eu ouvisse, havia um vazio no meu coração e na minha mente que me
paralisava. A sensação que eu tinha era de estar presa em algum lugar pequeno e
assistindo, em looping infinito, à mesma cena. Eu só queria que aquilo
parasse...
Não era falta de Deus: sempre fui
ativa em minha fé. Não era falta de ‘serviço’ em casa: toda organização dela
dependia de mim. Não era por falta de ter uma “responsabilidade”: eu tinha um
filho de 11 anos (à época) pra criar e um trabalho que amava. Nada disso,
porém, me impediu de me afundar dentro de mim, e a dor foi ficando
in-su-por-tá-vel... Até que numa daquelas noites terríveis de insônia
angustiante, entre soluços e muitas lágrimas, me lembrei da caixa de
remédios... Meu filho dormia no quarto ao lado sem saber de nada. Abri meu
guarda-roupa, peguei a caixa que ficava na parte de cima e coloquei na cama. IMEDIATAMENTE, como Deus existe e isso
aqui não é brincadeira e nem piada, ouvi uma voz mansa me dizendo: “Toma, vai
passar. Vai passar, toma...!”. Eu quis sentir aquela paz que a voz me passava.
Não pensei duas vezes: juntei todos os comprimidos na mão, abri os vidros e... PAH!
Um enorme clarão tomou conta da minha mente (isso tudo foi rápido demais, questão
de segundos). Me vi caindo na cama, alguns remédios indo ao chão (eu os via
pulando no piso) e vi meu filho entrando no meu quarto, me sacudindo, me
gritando, olhando de um lado pro outro e se vendo sozinho, aos prantos...
Aquele clarão se foi tão rápido como surgiu, como cena de filme... E eu estava
exatamente no mesmo lugar, com os comprimidos na mão e os vidros de remédio
abertos entre as minhas pernas... Eu me joguei no chão e chorei muito. Entendi
o ‘recado’ que havia recebido e chorei muito, muito mesmo. Pedi perdão a Deus
por tentar dar cabo da minha vida. Fui até o quarto do meu filho, dei um beijo
nele e pedi perdão a ele também, em silêncio. Voltei para o meu quarto e joguei
todos os remédios fora. Sentei-me no chão e chorei mais um monte. De onde eu
estava, via o céu pela janela. Dali mesmo, comecei a falar com Deus sobre tudo
(ok, Ele já sabia, Ele me via, mas eu precisava falar). Falei o quanto estava
sendo difícil passar por tudo aquilo, da minha dor, da deslealdade sofrida, da
minha raiva, da minha sensação de impotência em relação a tudo que estava
acontecendo, daquela minha monstruosa sensação de solidão e chorei mais uma
vez.
Quando terminei aquele desabafo
com Deus em meu quarto, senti uma paz que não consigo descrever. Me senti calma
como não experimentava há muito tempo, e senti, no coração, e não mais de
maneira audível, o seguinte: “Eu nunca deixei de estar aqui. Eu estou do seu
lado todos os dias. Eu vi todas as suas lágrimas... Não está sendo fácil, não
vai ser fácil, mas não será impossível essa caminhada. Lá na frente, você vai
entender...”
Por mais que muitas pessoas me
dissessem isso, e não foram poucas, AQUELA resposta foi direto ao meu coração.
Realmente, não foram dias fáceis. Eu precisei enfrentar a mim mesma todos os
dias. Eu precisei não me deixar sucumbir pelos dias maus – e não foram poucos.
Logo após tudo isso, eu descobri que estava grávida, de gêmeos. Precisei me
manter sã por conta daquelas vidas, por conta da minha vida, do meu filho que
também dependia de mim. Repito: não foram dias fáceis. Não foram. Além dos
hormônios da gravidez, eu precisei saber lidar com os maus pensamentos, com
aquela sensação de ter alguém à espreita esperando pela minha fraqueza para
poder aparecer novamente. Eu não fui forte por ser forte. Eu fui forte porque
PRECISEI ser.
Nas minhas postagens daquela época,
eu colocava as hastags #umdiadecadavez #cadavezumdia para me lembrar que iria
passar. E passou. Eu chorei durante 1 ano. In-tei-ro. Todos os dias,
absolutamente todos, você entende o que isso significa? Mas passou. Sempre
passa. Demora, mas passa.
“Por que você está contando isso,
poderia guardar isso pra você”. Realmente, poderia. Mas eu, que sempre amei a
vida e amava viver, decidi morrer. E a morte foi me buscar, de tanto que
pensava nela, naquele dia, naquele quarto, naquela noite. E por uma faísca de
misericórdia, talvez pela força de tanta gente que orava por mim e eu nem
sabia, talvez porque realmente não era a minha hora (e eu acho que nunca é
quando você decide morrer), talvez porque eu precisasse viver isso pra
poder ajudar outras pessoas, cá estou falando sobre isso. Eu poderia não contar
mesmo e ficar com essa experiência só pra mim, mas quero poder ajudar alguém
com esse relato. Se esse texto alcançar uma pessoa, puxa, eu vou entender que
houve um propósito naquilo tudo que era além da minha pequena compreensão à
época.
Se você está passando por um momento de dor absurda, se não sente vontade de fazer nada, nem as coisas de que tanto gostava, se você não queria nem acordar mais hoje, por favor, leia até o final. Não execute esse plano. Há
inúmeras pessoas que se preocupam com você de verdade. Você fará uma falta tremenda pra elas. Não é o fim, posso te dizer. Não é a sua hora! Você vai achar
uma solução para isso que parece ser um problema gigantesco. Essa voz de paz que
te chama para um pseudo-descanso só trará mais tormento, ME OUÇA. Não sei se você tem fé. Me faltou
também algumas vezes, confesso. Mas Aquele que tudo pode jamais te abandonou. Não
desista dEle: só estique sua mão. Se puder, procure ajuda
especializada. Psicólogo não é para “maluco”: é só para quem é muito esperto e vê
que um apoio específico pode (e vai) ajudar a ter uma visão mais ampla desse horizonte tão nebuloso. Quero te ver bem. Força! E me dê
notícias.
Bjs napaulísticos
Marcadores: ajuda, depressão, Deus, fé, NaPaula, psicólogo, setembro amarelo, suicídio, vida
8 Comentários:
Nossa!! Cadê o lenço numa hora dessas??
Tenho alguns rs Obrigada por ler!
A uns anos atrás te conheci pelo Twitter e vc me contou a história do teu nascimento, estória esta que nunca saiu da minha mente. De tudo o que li em seu texto, algo eu tenho absoluta certeza, de que o Senhor te permitiu experimentar esta profunda angústia para te tornar um instrumento de cura em Suas mãos. Propósito entendido... Agora é avançar e abrir as portas das prisões, das quais muito se encontram. Deus te abençoe querida!
Senhor! Imagino que tenha sido difícil. Não é facial acompanhar uma pessoa depressiva também. Suas hashtags antigas são as que usei no início do processo quando descobrimos o problema aqui. Mas eu creio que vai passar. Que bom que compartilhou esse momento conosco. Vou imprimir e pedir a pessoa pra ler, será uma gota a mais de esperança pra ela, que creio, não queria estar assim.
Menina, um dia de cada vez. Sei como é! Vc sabe que é peça importante de tantas boas ideias e referencia. Desde q te conheci és a maior entusiasta e de amor que conheço. Lindo texto!
Este comentário foi removido pelo autor.
Dias de luta, dias de glória.
Louvado seja o Senhor por te guardar, e as bbs. Maravilhoso Ele é. Deus te abençoe.
Obrigado por dividir conosco sua experiência, me sinto assim ... parece que todo sofrimento se prolonga ao invés de ter fim.Não me faço de vitima ,mais não consigo ver saída, parece que este é o lugar onde devo estar.. e infelizmente parece que estou no fundo do poço... mas você esta certa #Umdiadecadavez #Cadavezumdia !!!
Que Deus Te Abençoe. pq não é facil assumir que vc realmente tem um problema. Deus é Lindo, Deus é Simples nós que complicamos sempre!!!!
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