domingo, 8 de abril de 2018

Uma nova idade, "velhos" agradecimentos...

Eu nasci de uma cearense de quase 1,60m. Pequena na estatura, mas enorme em força, garra, coragem. Feita de lágrimas e esperanças, minha mãe forjou o que há de melhor em mim.

Minha resistência vem dela, que viu a família ser separada por conta de uma grande seca no interior do Ceará. Dos 19 irmãos, ela só conheceu 3 irmãs. Todas as meninas foram dadas para famílias ricas da capital cearense. Ela não se lembra de quantas eram. O pai decidiu ficar apenas com os homens, que ajudariam na lavoura. Ela viu minha avó ir embora de casa antes das filhas serem "leiloadas"...

Minha fé vem dela, que de maneira sobrenatural ficou curada de um câncer de colo de útero em 1985. Minha mãe venceu uma sentença de morte pela fé, a mesma que carrego e uso todos os dias diante dos desafios que a vida me impõe.

Meu compromisso com a verdade vem dela, que me ensinou a ter apenas uma palavra e a zelar pelo meu nome. Por isso, hoje, saber que as pessoas dizem que sou "chata" com meu trabalho ou que, apesar dessa chatice, elas sempre me procuram para saber como faz certa coisa ou como se diz/escreve, é um baita orgulho pra mim. JAMAIS meu sobrenome será "Ana Paula, a enrolada" ou "a que não cumpre prazo" ou "a que não é confiável".

Minha valentia vem dela, e não confunda isso com arrogância! Minha mãe desistiu da (minha) morte já dentro de uma sala de aborto. Me criou SOZINHA com as possibilidades que tinha, com os recursos que tinha, com o amor que tinha. Enfrentou o mundo com medo, mas ninguém percebeu. E os seus rugidos de leoa ecoam na minha voz para proteger meus filhos. Eles são a medalha que carregou no peito, e, por causa deles, muitas vezes, já engoli sapos de pernas abertas no almoço sorrindo e acenando.

Por isso que, no dia da minha formatura, eu fiz questão de marcar com os olhos onde ela estava. Quando o meu nome foi chamado, e eu segurei meu canudo nas mãos, eu olhei pra ela (mesmo não enxergando nada) e gritei: nós conseguimos! Eu era a primeira da família a ter curso superior! Aquela que haviam dito que não seria nada na vida, ou seria uma drogada ou uma prostituta levantava não só um diploma, mas um certificado de que é possível ir além, é possível não ser o que as palavras dos outros dizem...

Hoje, 43 anos depois daquele 25 de fevereiro de 1975, eu abro os olhos e agradeço a Deus por mais um dia, por mais um ano. Agradeço também à minha mãe. Eu sei que não deve ter sido fácil aceitar ir para aquele matadouro, assim como não deve ter sido fácil decidir sair de lá comigo dentro dela. Não deve ter sido fácil ter que me deixar no orfanato também. Não deve. Não foi. Tanto que ela lutou até que pudéssemos estar juntas de novo. Obrigada, mãe! Continuo aqui! Valeu a pena, viu?!?

Mais um 25 de fevereiro... O mundo deu sua volta natural... Tanta coisa mudou, outras tantas continuam iguais! Tenho saúde, graças a Deus, trabalho, cuido dos meus filhos e sigo em frente. Voltei a ter sonhos, quero estudar novamente e ~ quem sabe ~ esbarrar com aquele que também procura por mim. É melhor ser alegre que ser triste, né non?

Enfim...

Hoje é dia de comemorar a vida, e ela me chama lá fora! Você vem comigo?

Bjs Napaulísticos!




Obs.: texto escrito no dia 25/02 deste ano, mas, por pura falta de tempo, não tive como postar antes., desculpem...

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