Eu, dona Marlene e a realidade nossa de cada dia...
Depois
de um longo dia de trabalho, chego à minha casa. A cabeça a mil, pensando em
tudo que ainda tenho que fazer... E, de repente, avisto uma senhora - que nunca
vi na vida - na porta da minha sala, do lado de dentro.
O
coração dispara, a perna treme. Apresso o passo. E antes que eu fale qualquer
coisa, me esboça um sorriso e abre a porta: "Pode entrar!". Passo o
olho pela sala imediatamente: Filipe no celular, Nanda e Duda brincando na
frente do rack. Um misto de alívio e preocupação. Quando olho pra tal senhora,
que parece me conhecer, pergunto: "O que está acontecendo?". Ela
estica os lábios e me diz: Não se preocupe! A casa está arrumada; e o jantar,
pronto. Você pode subir e tomar banho. As meninas já fizeram o lanchinho e o
Filipe disse que come depois".
Tô
pasma. Olho em volta de novo e constato que é a minha casa, são os meus filhos
e as crianças brincam com a senhora desconhecida como velhas amigas.
Subo
as escadas desconfiada. E está tudo arrumado. Chamo Filipe. "Meu filho,
quem é essa senhora? Foi a sua avó que a mandou aqui?", indago. Filipe ri
do meu espanto e fala pra eu aproveitar. Penso: "se tivesse algo errado
ele me diria, com certeza!". Vou pro banho. Ah, um banho demorado (sou eu
que pago luz e água mesmo, mereço). Lavo até a cabeça, ousadamente. Mas não
demoro tanto, porque lembro que sou eu quem paga as contas rs
Coloco
uma roupa de casa com cara de arrumada (vocês têm também que eu sei!). Desço
leve, mas ressabiada. Da ponta da escada, vejo a mesa da cozinha posta: carne
assada, batata, arroz, salada, feijão. Tudo tão bem arrumadinho, com pratos
combinando...
Me
sirvo com calma. Como devagar e sabendo o que estou engolindo, que maravilha!
Saboreio cada garfada. Estranho o silêncio, mas a tal senhora, dona Marlene,
diz que as crianças estão vendo desenho e que Filipe continua no celular.
"comigo não tem esse silêncio", penso.
Estou
na última garfada, quando sinto algo bater na minha cabeça. E de novo, e de
novo! "Acoda, mamãe, acoooooda!". Tomo um susto e procuro pelo prato,
mas só há brinquedos e uma barulheira danada. Olho rápido em volta: dormi
sentada no sofá, talvez por 10 ou 15 minutos. Não tem janta pronta, nem tomei
banho ainda e preciso arrumar a casa! Meu Deus, eu SONHEI! Sonhei por 10 ou 15
minutos... Mas que sonho real... Ainda sinto o gosto da carne assada com
batatas na boca e procuro pela dona Marlene, naquela vontade de ser tudo
verdade...
Levanto
do sofá, me arrasto pra cozinha, respiro fundo e digo pra mim mesma: acorda,
NaPaula!
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