quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

NaPaula, o Natal e suas lembranças...


Não me lembro de quando comemorei o Natal pela primeira vez. Talvez pelo fato de nunca termos tido essa festa em casa. Minha mãe sempre associava a data às coisas tristes que ela viveu na infância, e Natal era aquele período em que ela contava todas as suas histórias mais doloridas. Eu sempre ouvi atentamente cada uma delas, mesmo já as sabendo de cor, porque achava que, deixando com que ela falasse, aquilo ali se esvaeceria com o tempo. Pura bobagem...

Nunca houve árvore, mesa com comilança, pessoas em volta, presentes. Às vezes, minha mãe comprava uma lembrancinha pra minha irmã, que era mais nova. “Você já entende as coisas”, ela dizia. Também não tinha coragem de pedir: minha mãe era a força que movia a nossa casa, tudo era muito contado, apertado. Chegou a ter dois empregos para que não nos faltasse o que ela podia nos dar. Tenho um orgulho danado dela. Se eu pudesse, hoje, ela não lavaria nem um copo, mas chegarei lá!

Voltando... Uma vez, num desses muitos ‘natais’, minha mãe fechou a casa toda, como se tivéssemos viajado. Não podíamos dar um pio. Não ligamos TV e nem rádio. Nós três quietas, dentro de casa. Do lado de fora, ouvíamos os vizinhos comemorando, rindo, gritando, toda aquela algazarra natalina. O cheiro das comidas invadia cada fresta da nossa casa, e chegava a dar o triplo da fome só de pensar. Chorei na cama, querendo ir para a rua, mas a minha mãe não me deixou sair de jeito nenhum. Só depois entendi o motivo: em todas as casas, era Natal, tinha Natal, menos na nossa. Os vizinhos iam à casa uns dos outros beliscar o que tinha, era uma farra. Na nossa não havia nada. Naquele dia, comemos arroz com batata. Eu tinha uns 11 ou 12 anos, e vi minha mãe chorar como poucas vezes a vi.

Lembro-me de ter tido uma árvore, sim, pera! Minha mãe, num rompante criativo, improvisou alguns galhos dentro de um jarro, os cobriu com algodão (pobre sempre sonha com neve!) e pincelou algumas bolas coloridas, de tamanhos variados. Isso foi o mais perto de uma árvore natalina que eu cheguei à época (se você rir, seu pisca-pisca vai queimar! kkkkk).

Aí eu cresci. Passei alguns natais na casa de parentes (obrigada, tia Leonora, por natais maravilhosos, com tanta coisa para comer que dava até dor nos olhos!) e, depois, me casei. Durante uma década, um tico mais, na verdade, passava o Natal como sempre imaginei: árvore, mesa farta, música, muita gente em volta, roupa nova, alegria, presentes... Dona Janira sempre caprichou em tudo. Aaah, o pavê, que saudade... Tinha karaokê também, uma “briga” para ver quem cantava um pior melhor rs Foi uma época boa, até que chegou aquele dia, e não houve mais natais (pra mim) lá.

Apesar de sempre ter sonhado com uma árvore de novela, daquelas que devem demorar dias para montar e necessitar de um exército para decorar, coloquei uma árvore pequena na sala esse ano. O motivo, claro, vocês já sabem: quatro mãozinhas curiosas tiveram que ser domadas dia a dia para que a árvore não virasse um monte de galhinhos picotados espalhados pelo tapete da sala. Não ia fazer nada além disso. No máximo, colocar pisca-pisca pela casa, que amo e, por mim, poderiam ficar enfeitando a cidade o ano todo. 


Aí, o milagre: minha mãe, aquela que não comemora Natal, resolveu que gostaria de fazer um “jantar”. Não era Natal, era um jantar. Pela primeira vez, nesses 40 anos lindamente vividos, tive um Natal com a minha família: eu, minha mãe, minha irmã, minhas filhas (Rico entrou de tabela). Apenas nós, mas, no fundo, era tudo o que importava de verdade. E, assim como eu sempre imaginei: teve comida, teve árvore, teve presentes, teve música, gente em volta... 





E teve gratidão também, por estarmos todos com saúde, firmes, apesar de tudo. Teve oração, porque o motivo do Natal não é só comer: agradeci por Deus ter aberto mão do seu Filho, único filho, de maneira que jamais saberei imaginar, para que Ele viesse à Terra e nascesse para cumprir o maior plano de amor já pensado em toda a existência. Ele nasceu apenas para morrer por mim, por você. Eu nunca seria capaz de colocar meus filhos em risco por causa de ninguém. Mas Ele fez. E é nisso que acredito. É nisso que penso toda vez que chega o Natal também.

E, se você, por algum motivo, também não tem ou não teve o Natal dos seus sonhos, enxugue os seus olhinhos. Eu sei que é uma data carregada de emoção, eu vivi isso. Eu sei que você vai se lembrar de quem já se foi. Vai querer dizer o que não disse. Vai querer que o tempo volte. Vai querer, mas não há como, você sabe. E haverá outros natais. Haverá outros momentos. Haverá uma nova chance de fazer da sua vida um verdadeiro Natal... Te vejo lá!


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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

NaPaula, sua rotina e algo mais...

Dormir depois de meia-noite, acordar às 6h. Na verdade, abrir os olhos e não acreditar que já está na hora de acordar. Levantar e chamar o filho mais velho, ir ao quarto das gêmeas dar aquela olhada babona, pegar a bolsa delas e colocar o que falta. Separar a roupa que elas vão e chamar mais uma vez o filho mais velho, que continua dormindo...

Descer, abrir as janelas, as cortinas, ligar a TV (e o Fachel grita: "olha a hoooora!"), pegar as mamadeiras e colocar no microondas com água pra esquentar: 1min na potência máxima. Subir, ir ao quarto, pegar as fraldas, lenço umedecido e pomada. Aí esquece as roupas, volta, dá um berro no filho, que agora acorda! Dar bom dia para as gêmeas, beijar o pé, ouvir reclamação, choro, resmungo (ninguém quer acordar). Duda acorda, ri, estica os braços, fala "mamamamama"... Trocar fralda, roupa, dar beijo e descer com a 02. Colocar na cadeirinha, prender, subir correndo pra arrumar a outra bebê. Dar outro berro no filho, que está tomando banho há duas horas! Beijar bebê, beijar pé, trocar fralda, trocar roupa e descer com a 01. Dar outro berro no filho: "desce, menino, assim não vai dar tempo pra você tomar café!". Ela bufa. "Todo dia é isso", pensa...

Bebês assistindo jornal (amam!), mamãe pega mamadeira, leite, vitamina, fruta, joga tudo no liqüidificador, bate, olha a hora ("meu Deus, já são quase 7h!"), dá outro berro no filho, que desce alucinado, atrasado, como todo dia! Pede dinheiro pro lanche, pede beijo, ganha e leva de brinde um "vai com Deus, meu filho, se comporta!".

Ela volta pras gêmeas: mamadeira pronta, vai pra sala, pega a bebê que fugiu, coloca na cadeirinha de novo, dá a mamadeira, corre lá em cima de novo, pega a bolsa das crianças, pega o celular, desce. Coloca biscoito e danoninho na bolsa, escreve na agenda, olha a hora (nossa, 7h25!), faz cara de espanto, corre na sala, pega a mamadeira, acaba o "Bom dia, Rio", coloca no Discovery (George, o curioso). Elas riem, querem pegar a TV. O carro buzina lá fora, ela corre pra pegar a bebê que fugiu (sempre a 01), coloca na cadeirinha, trava, abre a porta, fecha, leva a bebê, abre portão, entrega pra "tia". Aí ela volta correndo pra pegar a outra, sente um cheiro estranho: "isso é hora de fazer cocô, Duda!?!" Desculpe, tia da creche, vai ter surpresa quando vc a pegar! Corre, pega a bolsa, coloca bebê na cadeirinha, trava, leva correndo pro carro. Entrega. Dá beijo, diz que ama, ganha beijo de volta. Dá tchau e fica corujando o carro ir embora. Ela ora: "Deus, leve-as na Tua segurança". O carro some. Entra correndo, vai catando os brinquedos mais "largados", junta pra perto do sofá, coloca no Bom dia, Brasil. Ah, Rodrigo Bocardi, bom dia 😍😍😍... Quinze minutos de folga... Olha o celular, posta foto, atualiza info, pensa em que roupa vai, olha pro jornal, fica indignada com a notícia, lembra da hora, desliga a TV, sobe correndo, pega as fraldas que trocou das meninas e joga no lixo. Dá uma ajeitada no quarto das bebês, pega roupa e coloca no cesto. Olha pro quarto do filho e tem vontade de chorar. Pro banheiro dele, idem.

Ela volta pro seu quarto, dá um jeitinho, lembra que precisava colocar roupa na máquina... E o relógio não perdoa: já são 8h15! Corre pro terraço, coloca roupa na máquina, brinca com o cachorro, coloca água, comida, faz carinho, pergunta como foi a noite, cata o cocô, dá um beijo no cachorro, fala pra ele ficar bem, dá tchau e desce correndo, como sempre...

Arruma a roupa, arruma a bolsa, vai pro banho, coloca na JB FM, canta uma música antiga, se sente cantora, faz caras e bocas. Pensa na vida. Chuveiro é sempre bom pra isso. "E, agora, 8h35". Coooorre, #napaula, vai se atrasar! Enxuga, passa hidratante, coloca a roupa, escova dente, coloca borrachinha no aparelho, arruma o cabelo, dá uma última olhada e sai correndo.

Trânsito, trânsito, trânsito. Atualiza as redes sociais, trânsito. Chega ao trabalho, passa o crachá, sobe as escadas, chega à sala, dá bom dia, liga computador e começa a trabalhar. Atende telefone, resolve questões de um projeto do ano que vem, responde email, email, email, email, email, email... Toma um café, conversa com a equipe, abre email, email, email, atende telefone, telefone, telefone, prepara projeto, ouve repertório: 1, 2, 5, 23, 50 músicas... O ouvido dói... Hora do almoço! Come pouco, vai à rua, calor de matar, volta. O tempo voa. Nossa, já são 15h?!? Volta a ouvir repertório. Cobra orçamento, tira dúvida. Internet cai. E agora? Dá uma volta. Cabeça explodindo de enxaqueca. Fica calada, ninguém tem culpa dela não estar bem. Hora de escolher foto. Difícil. Hora de escolher capa. Idem. Muita dor. Toma mais dois comprimidos. Já são 17h, quase finalizada a audição. Ops, ainda tem 50 emails!  Pepino e abacaxi: "tinha que ser nessa hora?!?" Avisa ao filho que vai ao mercado. Mentalmente, faz uma lista. E a dor não passa. 18h15... Hora de pensar em ir embora. Arruma a mesa, checa email, pega celular, carregador, vê se falta alguma coisa. A equipe vai saindo. "Tchau, bom descanso, bom feriado". E ela pensa: "com dois bebês? Hahahaha, sabem de nada, inocentes". Ela agradece, deseja o mesmo.

Hora de ir. Entra no carro. Hoje ela vai com a chefe, um privilégio! Conversa de trabalho, de família, de coisas boas, de lembranças, de tanta coisa... A dor começa a dar sinais de que vai ceder... "te deixo em casa!"... Não precisa, vou ao mercado. "Te deixo lá, é caminho". Ai, como Deus é bom - pensa. Se despede. Deseja tudo de bom. Mercado. Vai ver quanto tem de crédito ainda. Opa, tá ótimo. Vamos ver: fralda, fralda, fralda, fralda, leite em pó, leite em pó. BiscoitoSSS. Para Nanda e Duda, para Filipe, para ela. Claro, ela também gosta. Farinha láctea. Danone. Café. Pão. Queijo branco. Produtos de limpeza. Dá uma olhada na hora, liga pro filho: tá tudo bem? Tô quase acabando aqui. As meninas chegaram? Agüenta que já tô indo!!! Cabeça não para de doer. Ainda tem coisa a comprar. Arroz. Feijão não precisa, tem. Pipoca! Açúcar, não. Sal tem. Opa, Qually! Leva fruta? Melhor comprar na feira. Quase fazendo uma nova compra de mês, lembra que é só coisas pro final de semana prolongado. Checa a lista. Vê que comprou coisas que não precisavam. Normal. Vai pro caixa. Manda mensagem pro filho: "já estou no caixa. Está tudo bem?" Recebe um "aham". Fila, fila. Sua vez. Passa tudo de limpeza antes. Arruma. Aquela velha guerra entre a caixa do mercado e a pessoa que passa e guarda as compras. Tudo que é de armário. Pão. Tudo que é de geladeira. Paga. Meras 7 sacolas e R$215 ficam ali. "Tudo muito caro", pensa.

Passa no caixa eletrônico, faz as contas, saca $. Táxi! Tão cansada... E a enxaqueca resolve não ir embora. Chega à sua casa. Paga o táxi, chama o filho, que a ajuda a colocar as bolsas pra dentro. Quando entra, um coro de "mamama" a recepciona. Falam, falam, falam coisas que ela não entende, mas abraça as filhas mesmo assim. Só dá pra lavar a mão. Senta no tapete e brinca com elas, as compras que esperem lá na cozinha serem guardadas. O filho também quer atenção. Pede "bejico". Muitas informações ao mesmo tempo: como foi o dia do filho, o jogo do amigo que é legal, a média da escola. Entre uma informação e outra, uma criança pula no seu colo, puxa seu cabelo: quer ser "ouvida" também. Maldita enxaqueca que não passa. Tenta ficar calma. Ninguém tem culpa. Nanda brinca, se joga, ri. Puxa seu cabelo de novo. Correm de um lado para o outro. Mexem na árvore de Natal. "Mamãe já disse que não pode, ai ai ai!". Se entreolham. "Melhor mexer em outra coisa", pensam. Começa a Peppa. Graças a Deus! Nesse momento de "paz", corre pra arrumar as compras. Guarda tudo. Dá um biscoito pras crianças (que inclui o filho, claro). Arruma a cozinha. Bebe água. Mais dois comprimidos, pra ver se ajuda a passar a dor. "Que cheiro é esse", pergunta. Alguém lá na sala faz "fuuuum", abanando a mãozinha. Tradução: alguém fez o "número 2". Bem, melhor dar um banho logo, está tão calor... Sobe. Tira (finalmente) a sua roupa, põe uma de casa (tomará banho depois, não se preocupem!), escolhe a das meninas, pega toalha. Desce, "escolhe" a Duda pra ser a primeira. Dá uma limpada antes. Entra no box. Dá banho na filha e toma um de tabela. Sabonete, xampu, condicionador. "Cabô", avisa para a filha, enquanto desliga o chuveiro. A inocente bate palma e diz: "êêê"... Seca, arruma, penteia, desce com a bebê e a entrega ao irmão. Percebe, olfativamente, que a outra filha também está "premiada". Sobe, arruma tudo pro segundo banho. Desce, pega a Nanda. Sobe. Entra no box. Sabonete, xampu e condicionador. "Cabô". Mais um "êêê". Seca, arruma e... Ops, criança  mais rápida do que a mãe foge pela cama. Toma uns dois "olés", mas consegue segurar a "fugitiva". Termina de arrumar, penteia, desce, entrega a criança pro filho, que a coloca na cadeirinha. Sobe de novo pra arrumar a bagunça: pendura toalha, recolhe as fraldas, arruma o banheiro. Coloca roupa no cesto, dá um jeito no seu quarto, olha em volta e pensa: "arrumo isso aqui amanhã". Desce pra fazer a mamadeira da noite. Já são quase 21h30! Leite, farinha láctea, 3 colheres de café de Nescau pra ficar "diferente" (não está nem aí pro que os outros vão pensar ao lerem isso). Bate no liqüidificador. Coloca nas mamadeiras e leva pras crianças. Vigia as crias enquanto mamam. Na TV, passa "meu amigãozão", ela já sabe cantar a música toda! As crianças terminam, batem palma porque mamaram tudo. "Muito bem", ela diz às filhas. O filho? Está jogando no celular (e a novidade?).

Por um descuido das filhas, ela se senta no sofá. Dura pouco. Duda quer colo, e a mãe dá. Mas Nanda também quer, e a mãe só tem um pra oferecer. Ela dá um jeito, fica com as duas nos braços (por alguns segundos hahaha), mas é só pra 01 não ficar chateada. Coloca as duas no sofá e deita. Uma inventa de brincar de pula-pula na barriga. O jeito é contrair o abdômen: "de repente, até diminui", ela pensa. Hahahaha.... 

As meninas dão sinal de que vão dormir: já são 22h15. Ela sobe, arruma os berços, liga o ventilador. Leva uma, que nem chora ao ser deixada lá. Desce e pega a outra. Nanda resmunga, mas é bem pouco. A mãe fica perto da porta, só pra ouvir se ficaram bem. Silêncio. "Gente, será que já dormiram?!?" Duda apagou. Nanda reluta, agarrada à sua naninha. A mãe clama aos céus pra que ela durma logo (julgue quem quiser!). Após 10 min, nenhum sinal de som no quarto, e a mãe contempla o milagre: ambas dormem. Ela olha as crias, dá um sorriso e desce.

Entre tantas coisas a fazer, ela não sabe o que fazer. Enxaqueca nojenta que não vai embora. Ela toma um danone, come um biscoito, pega o controle remoto e tenta ver alguma coisa na TV. "Nada que preste", pensa. Resolve subir. Separa uma roupa e vai pro banho. Demooooooora debaixo d'água (desculpem a pobre coitada, ecologicamente corretos!). Água no rosto, nas costas. No rosto de novo. Pensa em lavar o cabelo, acha melhor não, por conta do horário. Fecha a torneira. Se enxuga. Roupa de dormir ok. Pega a bolsa das meninas e pensa o que vai colocar. Mas aí ela lembra que amanhã é feriado. Ri do esquecimento. Desce, checa se está tudo fechado. Vai lá no terraço e estende a roupa que colocou pra bater de manhã. Coloca mais uma leva. "Amanhã, eu estendo", diz. Faz carinho no cachorro, pergunta se ele está bem. E, claro, ele responde balançando o rabo. Ela entende que sim, dá um beijo na testa dele e desce. 

Passa no banheiro, escova os dentes, lava a mão. Se olha no espelho por alguns minutos. Acha que acha uma nova linha de expressão no rosto. Faz umas caretas. É, é uma marca nova. Fazer o quê? Passa o creme anti-idade no rosto, estica e puxa, pensando em como seria se fosse assim-ou-assado. Está muito cansada pra pensar nisso. Um silêncio enorme. Ela passa em revista no quarto dos filhos novamente. Filipe já está maior que a cama. Precisa comprar uma nova pra ele. "Comprar", pensa. O verbo que ela mais conjuga rs Passa no quarto das meninas. Tudo em paz, dormem como pedras (pedras dormem?!?). 

Ela segue pro seu quarto. A cama ainda está bagunçada da noite anterior, mas quem vai saber disso, né? Ela sacode o lençol, ajeita os travesseiros. Vai até a janela, olha lá pra fora: tudo em paz no condomínio em que mora. Olha pro céu, agradece por mais um dia, pelo trabalho, por ter saúde, pelos filhos, pela família, pelos amigos. Entrega a noite de sono nas mãos dAquele que tudo pode. Lembra de pedir pra ser uma pessoa melhor. Ela quer perdoar quem precisa, não porque a pessoa mereça, mas porque ela precisa de (mais) paz. Abre os olhos, diz "amém". Vai pra cama, liga o ventilador e olha as horas: "caramba, meia-noite!" Calcula quantas horas de sono vai ter e torce pra que nada "diferente" aconteça na madrugada. Se ajeita na cama, termina de digitar o texto, pensa em ler tuuuudo de novo, mas desiste. 

"Tomara que alguém goste e se identifique com sua rotina louca". Ela também espera que Boás, aquele que está por vir, não se assuste e queira ainda mais vir fazer parte dessa loucura toda. 

Amém!

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terça-feira, 22 de setembro de 2015

#NaPaula, o bilhete e o livro

Eu tinha 9 anos quando entrei sozinha em um ônibus pela primeira vez. Minha mãe estava muito doente, e não havia alguém em que ela confiasse para ir ao banco sacar dinheiro e resolver um problema em sua conta. Fone fácil? Disque-banco? Não, não tinha. Era 1984, meu bem, aquele ano que você só conhece de ouvir falar, láaaaaa atrás!


Pois bem... Em uma folha de caderno, ela anotou tudo que eu precisaria saber: o número do ônibus que eu deveria pegar, seu trajeto , os pontos de referência para eu ir me orientando, onde descer, como chegar ao banco, com quem eu deveria falar e o que eu precisaria dizer.
Mesmo estando tudo ali escrito, ela repetiu t-u-d-o olhando pra mim, perguntando, entre uma frase e outra, se eu estava entendendo e ainda me fez repetir t-u-d-o ao final. Quando eu terminei de falar o que ela queria ouvir, me deu um beijo, se despediu de mim e me passou as últimas recomendações (que não estavam no papel), olhando bem dentro dos meus olhos: “Não fale com estranhos. Não sorria. Não aceite nada na rua. Se achar que está perdida, procure um jornaleiro ou um policial, mas não faça cara de perdida, apenas confirme o endereço. Agora, vai”.
Como o mundo era enorme sem um adulto por perto. Papelzinho agarrado na mão, uma bolsinha a tiracolo com o telefone da vizinha, fichas (siiiiim, sou da época do orelhão com fichaaaaas!), cartão do banco da minha mãe, dinheiro para ir e voltar e um extra para água, se precisasse. E lá fui eu.


PAUSA: Sou mãe de duas meninas com pouco mais de 1 ano e de um menino com 13. Meu coração aperta quando ele está na rua (e ele tem celular), imagino como ficou minha mãe naquele dia. Não havia celular, pager, comunicador, rádio transmissor, nada que ela pudesse se comunicar comigo. Peeensa!


Bem... Entrei no ônibus que ela havia indicado. Acompanhei o trajeto via papelzinho. Tudo batia. No ponto indicado, desci e segui rumo ao banco. Quando lá cheguei, procurei o gerente e contei exatamente o que eu havia ido fazer. Claro que ele fez cara de susto, mas me atendeu com todo carinho e cuidado. Na bolsa, minha mãe havia assinado, em um outro pedaço de papel, o nome dela, para que o gerente soubesse que ela era ela (sei lá se isso era necessário, mas entreguei como ela havia pedido). Problema resolvido, dinheiro em mãos, voltei pra casa.


Não me lembro se senti medo fazendo essa tarefa que minha mãe havia pedido. Mas lembro muito bem de todas as recomendações dela. Inclusive, até hoje, se me sinto perdida, procuro um jornaleiro ou um policial, obviamente, sem fazer cara de quem não sabe onde está rs. E isso tudo só me faz lembrar de uma coisa: se minha mãe, mesmo me amando muito e sabendo de todos os riscos que eu poderia correr, me disse “vai” – e eu fui -, agarrada apenas a um papel, confiando cegamente em todas as suas recomendações, por que temos dificuldade em ouvir e obedecer a Deus, quando, muito mais que um papelzinho, há um livro de boas recomendações para que possamos seguir? Ele também nos ama, mesmo quando nos manda por um caminho que, ao nosso ver, não parece seguro.


Confia no “vai” de Deus. Não se prenda às suas próprias regras, aos seus “bilhetes”, às suas normas. Se Ele disse pra você ir, Ele já preparou o caminho. Segure na mão dEle e vai!



Boa viagem!

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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Se você está a caminho, leia!

Tenho medo de não perceber que você passou por mim: ando muito distraída ultimamente. Às vezes, até olho por aí, na esperança de te ver chegar, mas eu não sei quem você é, e isso me dificulta um tanto que você não faz idéia.

Já viu que sou ansiosa, né? É. Tenho muitos defeitos. Também não tenho paciência. Sou colérica e um pouco sangüínea. Não, não precisa se assustar... Eu sou legal também. Todos dizem. Bem, nem todos. Mas quem não gosta de mim tem problema. Não, não sou convencida. Nem modesta. Mas tenho senso de humor. Senso de humor é tu-do. Você também é divertido, né? Por favor, diga que sim! Adoro rir, de preferência de coisas inteligentemente engraçadas. Não, não sei contar piadas. Mas tenho sacadas ótimas. Eu já disse que não sou convencida, é apenas constatação.

Então, voltando... Eu gosto de abraço. Gosto de beijo também, mas gosto mais de abraço. Principalmente naqueles dias que me aborreço e não quero falar. Eu só quero um abraço. Se eu, do nada, te pedir um, não pergunte o porquê: apenas me abra seu mundo em forma de um abraço e me deixe ali o tempo que eu precisar. Talvez eu chore. E não me diga: "ah, não chora, que bobagem". Se eu chorar, é porque preciso. Diga, no máximo, "vai passar", e me deixe ser oceano.

Por falar em oceano, eu sou solar, é muito importante você saber disso. Sim, isso quer dizer que vamos à praia em qualquer época do ano, basta estar um dia lindo. Eu passo protetor em você, seu bobo, e alugo uma barraca, não se preocupe. E eu espero que você goste de ficar na água, pois eu não fico mais deitada torrando ao sol. Podemos pular ondas juntos, "mergulhar por baixo", ou apenas ficar abraçados na beira da praia, rindo dos outros e de nós.

Sim, eu gosto mais do dia. De passear no calçadão, de lugares bonitos. Você me leva pra andar em volta da Lagoa? Nunca fui. Acho tão lindo... Eu sei que você pode achar perigoso, dizer que lá não é mais tão seguro... Mas, se pensarmos assim, nunca mais iremos a lugar algum... Relaxa!

Eu sou carinhosa. E gosto de andar de mãos dadas. De braços dados, grudada. E, de vez em quando, dê-me um beijo: eu gosto. Gosto de cafuné também, quase durmo quando mexem no meu cabelo. Gosto de ouvir que você gosta de mim e vou gostar de saber que sou especial pra você.

Sou chameguenta. Vou mandar mensagem de bom dia e, sim, vou ficar chateada se você apenas visualizar e não responder. Gosto de cinema, mas ver filme em casa também é legal. Se tiver frio, a gente se esconde nas cobertas e faz carinho pé-com-pé. Talvez eu esteja de meia, se estiver muito frio (mas a meia é bonitinha!).

Gosto de viajar. Sim, lugar com praia, por favor! Puxa, eu não gosto de frio. Tempo fechado me deixa de mau humor, inclusive.

Você gosta de camarão, né? Nossa, eu adoro! De qualquer jeito. Huuum, risoto, huuum... Frito! Huuum À milanesa... huuum... Comer é um capítulo a parte sobre mim. Tenho minhas crises de dieta, mas elas passam rápido. Não diga que eu não preciso, porque eu tenho espelho em casa, mas não seja louco de dizer que preciso, pelo mesmo motivo.

Tenho filhos, e eles são a prioridade da minha prioridade. Talvez eu precise desmarcar algo porque uma das meninas não passou bem, ou porque o meu filho precisa estudar. Mas eu compensarei os furos com cafuné e abraços longos...

Gosto muito de música. E vai ter sempre uma que vou ouvir e lembrar de você. Ou muitas. E, sim, vou mandar todas via whatsapp pra você com emoticons cheios de corações dizendo: "pensei em você".

Gosto de café. Detesto chá. O único que bebo é mate, e gelado. Cortei refrigerante, tá, mas não me tente rs

A lista está grande, né? Eu espero que você tenha lido até aqui e ainda continue querendo chegar, porque eu quero que você chegue. Há várias declarações de amor e carinho guardadas pra você. Há olhares cúmplices, beijos e abraços querendo ser seus. Há uma fidelidade te esperando e um coração todinho só pra você morar. Todo e completamente seu.

E, quando você chegar, cuide de cuidar do maior tesouro que você terá: uma pessoa que esperou por você mesmo quando ela não sabia se você chegaria...

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quarta-feira, 8 de julho de 2015

NaPaula, o supermercado e a vida...

Não é novidade que minha infância foi “apertada”. Os dois empregos que minha mãe tinha não garantiam, necessariamente, geladeira e armários cheios sempre. Então, quando ela dizia que era dia de ir ao mercado, nossa, que festa! Amava entrar no carrinho e passear por todas as sessões. Meus olhos de criança adoravam aquele colorido todo, principalmente o da área de biscoitos e danones. Minha mãe sempre levava alguma coisa, para meu delírio alimentar: biscoito goiabinha e Danoninho, além de Yakult, claro, mas esse minha mãe comprava na porta, naquelas kombis antigas que passavam na rua vendendo aquela maravilha (detalhe: minha mãe comprava 30, que era quase coisa de rico, né, pra época. Eu e minha irmã, às vezes, dividíamos, pra poder durar mais hahahaha Mas sempre acabava antes do final do mês, pra nossa tristeza).


Cresci, e ao contrário de muitas pessoas que conheço, continuo gostando de ir ao supermercado. Sou dessas de fazer lista (não sei pra que, porque nem sempre me obedeço!), que andam por todos os corredores, analisam produtos, leem tudo. É um passeio bem divertido pra mim (com exceção da hora de pagar rs).


E, quando eu me separei, um dos meus pensamentos foi: "e agora, como eu vou fazer compras sozinha?!?" Sim, porque durante mais de 10 anos, eu tive um companheiro de aventuras supermercadísticas. Pensei: "ferrou, como vou comprar, arrumar na esteira, empacotar, pagar..." Até que chegou o dia de ir ao mercado, o meu teste de “vamos lá, Paula, você é uma mulher ou um rato?” Foi estranho andar sozinha. Foi estranho não ter com quem comentar sobre a diferença de gramas nas embalagens. Foi estranho. Pior ainda quando me vi indo para o caixa. Fingi naturalidade, apesar de ver que algumas pessoas me olhavam (“nossa, com isso tudo e vai passar sozinha?!” Ok, talvez tenha sido algo da minha cabeça). Bem... Ali era eu, a esteira, a menina do caixa e as sacolas. Quase uma competição de quem passa e guarda mais rápido. Coração na boca. Passo tudo que é de limpeza primeiro. Depois, coisas de armário. Por último, geladeira. Corria de um lado para o outro (sacolas contra Paula. Paula contra esteira. Menina do caixa contra Paula), mas, no final, deu tudo certo. Dei uma leve risada interna e pensei: "ah, menina, viu? Deu nervoso no início, mas tirou de letra, quase uma profissional!!" E fui eu pegar meu táxi, desfilando com meu carrinho devidamente arrumado.


E por que diabos eu estou contando isso?!? Simples: porque, muitas vezes, nos atemos e nos preocupamos com algo que, num primeiro olhar, parece absurdamente terrível pra nós, mas, de verdade, não é nada. Projetamos nossos problemas para patamares que eles não precisam e nem merecem estar. Superestimamos circunstâncias, nos desesperamos com coisas pequenas. Claro que na hora a gente não percebe. Não foi culpa minha e nem é culpa sua. Mas quando você conseguir passar pelo caminho que dá medo e vir que chegou ao outro lado, uau, vai sentir um alívio e pensar: gente, era isso?!?


Então, vá aqui pela #NaPaula: não se prenda aos problemas “fazer compras sozinha”. Ok, o seu problema parece grande. E deve ser agora. Mas vai deixar de ser (se já não deixou...). E, quando você estiver com o “carrinho” nas mãos, com tudo sob controle, segura e feliz por ter conseguido, respire fundo, pisque o olho e diga: “é, não era tão difícil assim. Estou melhor e mais forte para o que vier”. E siga, linda e poderosa, pelo mercado da vida.





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sexta-feira, 12 de junho de 2015

Houve um tempo...

Há um quarto, na casa da minha memória, no qual guardo as lembranças que (ainda) doem. Por algum motivo que eu não sei explicar, não joguei tudo fora de pronto...

O quarto é cinza. Há uma janela que deixa um pouco de luz entrar. Há uma cadeira de balanço lá dentro e um baú logo à sua frente. Quando entro nele, nem sempre abro o baú. Apenas me sento na cadeira, coloco a almofada que fica no assento no meu colo e me reclino bem devagar nela. Ouço seu ranger e ela me embala lenta e calmamente.

Me inclino, dessa vez, para abrir o baú. Apesar de ter tanta coisa dentro, ele é relativamente pequeno. Não há cadeado. Toco nele e penso: pra que abrir justamente hoje? Às vezes, me convenço de que não vale a pena reviver o que está lá dentro. Porque lá dentro há de tudo um pouco: fotos, cenas, risos, lágrimas, pessoas, lugares, cheiros, gostos, músicas... E eu me venço no sentido de não abri-lo.

Mas, hoje, por razões mil, o baú se abriu diante de mim... E os meus olhos não se fecharam a tempo... E eles viram aquele tempo, aquele tempo que eu já sei que não existe mais. Aquele tempo que o tempo se encarregou de levar pra longe, tão longe que já nem sinto falta...

E meus olhos abriram a porta das lembranças... E elas pairavam à minha frente, flutuando do baú pelo quarto. Eu ri de novo do que era 'risível'. E vieram as cenas por completo, os motivos, as horas, os toques, os gestos, os porquês, as razões e até uma certa alegria. Mas outras cenas também queriam ser vistas, e o quarto era um inundar de coisas e palavras e músicas e sons... Eu dancei entre as lembranças. Havia borboletas pelo quarto, raios de sol, cheiro de manhã feliz.

Cheguei a me lembrar de como tudo era antes de que tudo fosse.

Mas, de repente, meus olhos se abrem. Estou como quem levita pelo quarto, embalada pelo som daquela música. E, ao abrir os olhos, eles percebem o engano: não há borboletas, elas ainda são lagartas. Não há raios de sol, pois não há luz entrando pela janela. Não há cheiro de manhã feliz, apenas do velho e empoeirado baú.

Vagarosamente, chego ao chão. De frente para o baú, vejo as fotos voltando cada uma para o seu lugar. As cenas se ajustam ao seu tempo, a música para de tocar: ouve-se apenas o barulho ensurdecedor do silêncio...

Caminho para a porta e seguro a maçaneta. Olho em volta, respiro fundo e penso: preciso me desfazer desse quarto... Mas como me desfazer se, às vezes, ainda sou o que acho ser que fui? Como?

Não sei me responder. Bato a porta. Saio da casa e sinto os pingos da chuva que caem lá fora. Pingos com gosto de açúcar e sal...


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sábado, 9 de maio de 2015

#NaPaula e suas duas barrigas...

Antes que você pense que sou uma criatura de outro planeta, disforme e estranha, o título do post se refere às minhas duas gestações. De nada. Bem, agora, dadas as devidas explicações, vamos ao texto.

Eu queria ser mãe de menino. Quando me casei (2000), eu e o digníssimo (à época) planejávamos ter logo um filho, mas as durezas do início do casamento (entenda parcelas e mais parcelas a serem pagas) adiaram os planos por um período, exatos 14 meses.

Após 3 alarmes falsos, estava grávida. Meu Deus, eu ia ser mãe. M-ã-e! Você não tem noção do que é ler o resultado 'POSITIVO'. Mesmo quando você quer muito, bate um gelo no corpo que nem se eu morasse no polo norte e resolvesse dar uma volta sem roupa ao redor do meu iglu não sentiria o mesmo 'frio'. Se você já passou por isso,sabe do que estou falando. Se não, pre-pa-ra!

Pois é. E tive o 'estalo' de estar grávida de maneira curiosa. Como disse, tive três alarmes falsos. Com apenas um dia de atraso da bendita menstruação, já saí ligando pra todo mundo, dizendo que a família estava aumentando, aquele fuzuê. E todo mundo comprando sapatinho pra me dar de presente e... alarme falso... Cuén Cuén Cuén... Na segunda vez, fiquei mais 'prudente': no terceiro dia de atraso, soei o alarme. E todo mundo comprando sapatinho pra me dar de presente e... alarme falso! Cuén Cuén Cuén... Na terceira vez, eu já não era mais tão ansiosa: dei a notícia com 7 dias de atraso! E todo mundo comprando sapatinho pra me dar de presente e... alarme falso! Cuén Cuén Cuén... Na quarta vez, com 15 dias a ver navios, fiquei na minha. Fui pra casa da minha sogra, almocei e, ao abrir a geladeira, vi um danoninho (ela sempre comprava essas coisas, mesmo não tendo mais criança em casa). Não tive dúvidas e mandei ver, e ele voltou com tudo na mesma velocidade que eu comi. Pensei: "agora eu tô grávida. Jamais, em sã consciência, eu vomitaria um danoninho". hahahahaha Pois bem... Contei pro futuro pai o ocorrido. Ele, já ressabiado, falou: "faz o exame amanhã". Fiz. E foi ele quem buscou o resultado. Quase morri de ansiedade o dia todo. Só iria saber às 17h. E, ao me ligar, ele disse: "parabéns, mamãe"...

Filipe a caminho! Eu com 8 meses...

Mamãe. Eu ia ser mamãe. Tudo mudaria radicalmente em mim. E mudou. Os enjôos, as náuseas, a barriga que crescia diante dos meus olhos. O primeiro chute dele. PAREMOS! Eu sempre quis e disse que seria mãe de menino. Muito antes de engravidar, eu comprei um conjunto de short e blusa de gola polo pro meu filho e ficava namorando aquela roupinha. Já grávida, amava ver tênis, bermudinhas, tudo de menino. E as pessoas diziam: "Ah, não faz assim. Se for menina,vai se sentir rejeitada,,," Eu nem ligava. Uma certeza uterina me dizia: "É menino!" E foi. No dia da ultra pra (tentar) ver o sexo, ele estava todo exibido. "É um meninão, mamãe, olha aqui os documentos", disse o médico, e eu não vendo nada hahahahaha. Mas tudo bem, a gente fica feliz do mesmo jeito. VOLTEMOS. Pois é... Os primeiros chutes, as mexidas de enlouquecer, os carinhos na barriga. Os planos de passeio que fazíamos, os desejos (eu amava comer pepino gelado, vai entender...). E 42 semanas depois, após agonizar por quase 12h, Filipe nasceu. Parto normal, como eu sempre pensei (mas não precisava ser do jeito que foi, isso é assunto para um outro post, me lembrem!!!), a dor que eu sequer poderia imaginar e a maior felicidade do mundo que só quem passa pela experiência sabe.

Meu filho, aquele ser que eu amava sem nunca ter visto, estava em meus braços. E agora, #NaPaula, cadê manual?!? O instinto o levou ao meu peito e eu senti o leite percorrendo seu caminho de vida. Eu alimentava o meu filho. É uma sensação indescritível, DOLOROSA, sim, mas MARAVILHOSA! Não desista no primeiro sangramento, na sua primeira ida à Lua sem equipamento, no bico quase pendurado. Passa, como tudo na vida. E vai virar história depois, como essa...

Meu primeiro mês como mãe foi tétrico e desesperador. Sabe aquela conversa de "dorme (quando grávida), depois você não vai saber mais o que é isso". VERDADE. Filipe era um bezerro. Mamava de 2h em 2h. Eu, que amava dormir, cochila no banho de 15min. Quando ele dormia, eu não sabia se fazia as coisas, chorava ou dormia. Enquanto eu pensava, ele acordava. Mas, como eu disse, TUDO passa, principalmente essa fase de adaptação entre mãe e filho.
Filipe com 9 meses. Praia de Copacabana, XGames


Ser mãe é maravilhoso? É, mas cansa. É uma delícia ver seu filho crescer, mudar... É, mas tem hora que você tem que sair de perto pra não arremessar o pequeno pra casa da avó. Filhos, ai, ai... um eterno aprendizado...

E, quando eu nem mais pensava na hipótese de engravidar, descobri que seria mãe novamente. No meio do maior turbilhão emocional da minha vida, quando tudo que julgava sólido se esfarelava e escorria pelos meus dedos, a certeza de que eu precisa ficar firme, pois havia mais dois motivos para isso. Não bastava estar grávida: tinha que ser gemelar. GEMELAR. DOIS. UM + UM. PAUSA AQUI. Três meses antes de saber da minha gravidez, Beth, minha irmã do coração e integrante da minha equipe de trabalho, descobre que está grávida... de gêmeos. E o engraçado que, antes dela fazer a ultra, a gente falava que seria um casal. E, quando ela soube que era tudo que a gente sempre falou, ela disse que o primeiro pensamento dela foi: "Eu vou matar as meninaaaaas" hahahaha VOLTEMOS... Pois é... Eu ri da Beth. E fiquei grávida de gêmeos (se você está rindo agora, cuidado!). Na verdade, gêmeas...

Se eu fiquei feliz? Não. Se dei pulos de alegria? Não. Eu só chorava. Tinha meus motivos. Egoístas, claro, mas eram os meus motivos naquele momento. Não me culpo, eu estava sem chão. E me orgulho de mim por ter passado tudo que passei e estar de pé hoje. Mas, óbvio, não fiz essa caminhada por mérito meu, por ser 'sinistra', porque era "a fortona". DEUS (acredite você nEle ou não) foi quem me segurou durante todos aqueles dias. Dia a dia, um dia de cada vez, cada vez um dia... No(s) dia(s) que eu quis morrer, ELE estava lá. Nos dias que eu dizia: não consigo mais... ELE estava lá. A cada novo golpe, ELE me dizia: levanta e anda... E, quando eu não aguentava levantar, ELE me tomava pelas mãos. ELE viu todas as lágrimas que eu derramei: porque ELE as colheu na palma da SUA mão. ELE ouviu cada grito que eu dei. ELE ouviu as palavras que eu não dizia. ELE leu os bons e maus pensamentos que tive. ELE foi a mão na minha barriga. ELE foi o apoio. ELE foi o companheiro dos dias sombrios. Não foram dias fáceis, não me julgue. E se julgar, você nunca será juiz sobre a minha causa... 

Minhas jaguatiricas ainda na toca
No quarto mês de gestação, descubro que Gui e Edu (Guilherme e Eduardo) eram, na verdade, Nanda e Duda (Fernanda e Eduarda). Todos os planos que fiz, Deus desfez. Todas as hipóteses que levantava, ELE jogava por terra. Todos os traumas que tinha, ELE curou, inclusive o de ser mãe de meninas. (Denise, Beth e Rocha: vocês estão vindo em meu pensamento agora. Amo vcs!). E o processo começou quando ouvi o coração delas naquele ultrassom e terminou quando as vi, em meus braços, pela primeira vez. O amor, realmente, tudo cura...
Nanda e Duda: primeiro dia em casa...

Duas gestações. Duas 'barrigas'. Dois momentos distintos. Mas nada, NADA mesmo, nada do que vivi, senti ou sofri é capaz de fazer com que eu pense em não ter os meus filhos. Não me imagino sem os três. Não me imagino sem Nanda e Duda, anjos que vieram resgatar o melhor que havia em mim. Quando eu era rio seco, elas chegaram pra me encher de vida. Não fui eu que dei à luz a elas: elas trouxeram a luz de volta pra mim... Amo meus filhos com tudo o que há em mim. Filipe, meu companheiro, alçado ao posto de "homem da casa" tão cedo: mamãe te ama. Perdoe-me pelos dias que não dei o carinho de que você precisava. Se não fui presente, quando você queria. As mães erram. Erramos muito. Você foi, muitas vezes, o colo que eu não tinha. O carinho nos meus cabelos... Vivemos juntos coisas que ninguém sabe e nem saberá. Obrigada por ter segurado as minhas mãos no deserto. Nanda e Duda estarão protegidas quando eu não mais for a proteção que eu julgo ser pra elas.

Filhas... Um dia, vocês lerão essa história. Mas já saberão dela, porque nunca vamos ter segredos. Hoje, sou eu quem penteio o cabelo de vocês, mas chegará o dia em que o bebê serei eu. A mamãe é turrona, tenham paciência. Eu gosto de escolher as minhas roupas, mesmo que vocês achem que nada combina com coisa alguma (Eu nunca liguei pra moda mesmo...). Deixem meu perfume por perto, aquele que eu nem sei mais se fazem... Eu durmo com a janela aberta! Continuo gostando de cafuné e massagem nos pés. Uso dois travesseiros pra dormir. Gosto de água quentinha e amo ver o mar...

Duas barrigas. Duas gestações. E um amor que será pra sempre. Sempre.

#FelizDiaDasMães 

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segunda-feira, 4 de maio de 2015

Há um Ernani perto de você...

Certa vez, trabalhei em uma pequena empresa de Engenharia. Foi lá que fiquei conhecendo um rapaz chamado Mauro. Ele era grandalhão e gostava de fazer brincadeiras com os outros, sempre pregando pequenas peças. Havia também o Ernani, que era um pouco mais velho que o resto do grupo. Sempre quieto, inofensivo, à parte, Ernani costumava comer o seu lanche sozinho, num canto da sala. Ele não participava das brincadeiras que fazíamos após o almoço, sendo que, ao terminar a refeição, sempre sentava sozinho debaixo de uma árvore mais distante.


 Devido a esse seu comportamento, Ernani era o alvo natural das brincadeiras e piadas do grupo. Ora ele encontrava um sapo na marmita, ora um rato morto em seu chapéu. E o que achávamos mais incrível é que ele sempre aceitava aquilo sem ficar bravo. Em um feriado prolongado, Mauro resolveu ir pescar no Pantanal. Antes, nos prometeu que, se conseguisse sucesso, iria dar um pouco do resultado da pesca para cada um de nós.

No seu retorno, ficamos todos muito animados quando vimos que ele havia pescado alguns dourados enormes. Mauro, entretanto, levou-nos para um canto e nos disse que tinha preparado uma boa peça para aplicar no Ernani. Mauro dividira os dourados, fazendo pacotes com uma boa porção para cada um de nós. Mas, a 'peça' programada era que ele havia separado os restos dos peixes num pacote maior, à parte. - 'Vai ser muito engraçado quando o Ernani desembrulhar esse 'presente' e encontrar espinhas, peles e vísceras!', disse-nos Mauro, que já estava se divertindo com aquilo. Mauro então distribuiu os pacotes no horário do almoço. Cada um de nós, que ia abrindo o seu pacote contendo uma bela porção de peixe, então dizia: - 'Obrigado!'.

Mas o maior pacote de todos, ele deixou por último. Era para o Ernani. Todos nós já estávamos quase explodindo de vontade de rir, sendo que Mauro exibia um ar especial, de grande satisfação. Como sempre, Ernani estava sentado sozinho, no lado mais afastado da grande mesa. Mauro então levou o pacote para perto dele, e todos ficamos na expectativa do que estava para acontecer. Ernani não era o tipo de muitas palavras. Ele falava tão pouco que, muitas vezes, nem se percebia que ele estava por perto. Em três anos, ele provavelmente não tinha dito nem cem palavras ao todo. Por isso, o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa. 

Ele pegou o pacote firmemente nas mãos e o levantou devagar, com um grande sorriso no rosto. Foi então que notamos que seus olhos estavam brilhando. Por alguns momentos, o seu pomo de Adão se moveu para cima e para baixo, até ele conseguir controlar sua emoção. 'Eu sabia que você não ia se esquecer de mim', disse com a voz embargada. - 'Eu sabia, você é grandalhão e gosta de fazer brincadeiras, mas sempre soube que você tem um bom coração'. Ele engoliu em seco novamente, e continuou falando, dessa vez para todos nós: 'Eu sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi por má intenção. Sabem... Eu tenho cinco filhos em casa, e uma esposa inválida, que há quatro anos está presa na cama. E estou ciente de que ela nunca mais vai melhorar. Às vezes, quando ela passa mal, eu tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela. E a maior parte do meu salário tem sido para os seus médicos e os remédios. As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa. Vocês talvez achem esquisito que eu vá comer o meu almoço sozinho, num canto... Bem, é que eu fico meio envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche. Ou, como hoje, eu tinha somente uma batata na minha marmita. Mas eu quero que saibam que essa porção de peixe representa, realmente, muito para mim. Provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, porque hoje à noite os meus filhos...', ele limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos. - 'Hoje à noite os meus filhos vão ter, realmente, depois de alguns anos...' e ele começou a abrir o pacote...

Nós tínhamos estado prestando tanta atenção no Ernani, enquanto ele falava, que nem havíamos notado a reação do Mauro. Mas agora, todos percebemos a sua aflição quando ele saltou e tentou pegar o pacote das mãos do Ernani. Mas era tarde demais. Ernani já tinha aberto o pacote e estava, agora, examinando cada pedaço de espinha, cada porção de pele e de vísceras, levantando cada rabo de peixe. Era para ter sido tão engraçado, mas ninguém riu. Todos nós ficamos olhando para baixo. E a pior parte foi quando Ernani, tentando sorrir, falou a mesma coisa que todos nós havíamos dito anteriormente: - 'Obrigado!'.


Em silêncio, um a um, cada um dos colegas pegou o seu pacote e o colocou na frente do Ernani, porque depois de muitos anos nós havíamos, de repente, entendido quem era realmente o Ernani. Uma semana depois, a esposa de Ernani faleceu. Cada um de nós, daquele grupo, passou então a ajudar as cinco crianças. Graças ao grande espírito de luta que elas possuíam, todas progrediram muito: Carlinhos, o mais novo, tornou-se um importante médico. Fernanda, Paula e Luisa montaram o seu próprio e bem-sucedido negócio: elas produzem e vendem doces e salgados para padarias e supermercados. O mais velho, Ernani Júnior, formou-se em Engenharia; sendo que, hoje, é o Diretor Geral da mesma empresa em que eu, Ernani, e os nossos colegas trabalhávamos.

Mauro, hoje aposentado, continua fazendo brincadeiras; entretanto, são de um tipo muito diferente: ele organizou nove grupos de voluntários que distribuem brinquedos para crianças hospitalizadas e as entretêm com jogos, histórias e outros divertimentos.
Às vezes, convivemos por muitos anos com uma pessoa, para só então percebermos que mal a conhecemos. Nunca lhe demos a devida atenção; não demonstramos qualquer interesse pelas coisas dela; ignoramos as suas ansiedades e os seus problemas. Lembre-se: há um Ernani perto de você!

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Eu recebi esse texto em 2007, via Orkut (crianças, Orkut era o Facebook da minha época!). Foi como tomar um soco no estômago. Li várias vezes e chorei. Até hoje, ele me emociona profundamente. Não sei se é verídico, não sei a quem imputar a autoria, só sei que ele é extremamente verdadeiro no que diz. Pode haver um Ernani ao nosso lado agora, Ou, quem sabe, por caminhos que a vida toma, o Ernani somos nós...

Que estejamos atentos aos que nos rodeiam. E que não sejamos nós a distribuir vísceras e espinhas por onde passamos.

Bjs da #NaPaula


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terça-feira, 28 de abril de 2015

Se não fosse aquele dia...

Há quase um ano escrevi o texto que você lerá abaixo. Dizem que precisamos ter assuntos definitivos, aqueles dos quais falamos uma vez só e nunca mais depois. Eles precisam "morrer", para que não nos tornemos "viúvos de parceiro vivo", ou seja: para que não choremos sempre e enlutados sejamos por algo que precisa ser 'enterrado'.

De uma certa forma, concordo. Cada um sabe tratar de sua dor e caso de um jeito. Há os que gostam de falar, porque assim, imagino eu, fazem uma verdadeira verborragia, e o assunto se esgota, se esvai. Outros, nada falam. Preferem remoer as próprias palavras, num eterno ruminar de sílabas, frases, sons, perguntas e respostas.

Eu fico no meio termo: ora falo o que não precisa ser dito; ora engulo aquilo que precisaria falar. Um dia eu aprendo. Um dia aprendemos todos. É assim, não é? Pois é... Então.

Eu publiquei esse texto no ~feice~, mas quero deixá-lo registrado aqui também. Me emocionei ao lê-lo novamente. Uma droga. Talvez porque o texto, mesmo em terceira pessoa, seja eu como pessoa inteira.

Boa leitura.

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Eram 9h quando ela acordou. Naquela manhã, o dia estava inacreditavelmente lindo. O céu azul e um sol sorridente davam de ombros para a véspera chuvosa e fria.

Ao se espreguiçar lentamente, um filme foi passando pela sua cabeça. Tantos anos à espera daquele dia e ele estava ali, pronto para ser vivido.

Ao seu lado, pendurado na porta do guarda-roupa, um longo vestido branco a lembrava de que aquele dia seria único e especial. Era 15 de julho.

As horas passaram vagarosamente rápidas e rapidamente devagar. Ela estava ansiosa. E feliz, Incrivelmente feliz.

Quando deu a sua hora, lá foi ela. A cada passo, o coração acelerava cada vez mais. Um leve torpor a lembrou de algumas quedas de pressão. Mas ela aguentou firme. "Hoje, não!", pensou. As mãos mal conseguiam segurar o buquê: tremiam. Dizem que ninguém percebeu.

E, quando os seus olhos se encontraram com os olhos do seu par, ah, ela sorriu o sorriso mais lindo daquela noite. Talvez tenha sido o sorriso mais bonito que ela já tenha dado... E ouviu alguém dizer pra ele: "Aproveita esse amor".


Mãos dadas. A voz embargada. Os olhos que insistiam em virar oceano. O sim, O beijo. A festa. As fotos. A despedida. O encontro. O amor.

E foi esse amor, cultivado através do tempo, que a fez forte para aguentar os dias mais difíceis. Foi o amor que a fez serena nos dias de mar revolto. E foi o amor que a fez ter fé quando  todos duvidavam. Foi o seu amor.

E esse amor seria eterno. Seria eterno o seu amor, se não fosse aquele dia. E, quando aquele dia chegou, sumiram os sonhos, as mãos sempre juntas, os beijos de bem-querer, o olho no olho. Sumiram os planos, as certezas, o trilhar do caminho. Naquele dia, sumiram o chão e o ar. Sumiram o sorriso, a esperança e a alegria. Tudo sumiu naquele dia.

Mas o tempo passou.

E voltaram alguns sonhos. O chão também voltou. O ar está de volta. Os planos, sim. O sorriso ainda não.

Quando o mundo dá a sua volta e traz com ele o dia 15 novamente, ela faz que não vai lembrar. Mas esquece de esquecer. E, ao lembrar, a memória lhe traz o barulho da festa, o som dos sorrisos felizes, o cheiro das flores, a visão do amor que seria pra sempre, se não fosse aquele dia...

Furtivamente, uma lágrima cai, e as imagens somem, uma a uma. Ela pensa em tocá-las, na tentativa de viver aquele dia mais uma vez. Mas aquele dia já não existe mais. Nem o amor. O amor que ainda estaria aqui, se não fosse aquele dia...

Arquivo pessoal

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segunda-feira, 27 de abril de 2015

As folhas da amendoeira...

Sempre fui uma menina muito agitada e serelepe (nossa, serelepe! Que coisa antiga. Ok.). Prova disso é que venci a corrida pela vida, né, meu bem. Eram milhões de competidores rumo à bola de ouro, e lá fui eu super determinada a ser a número 1. E fui. E cheguei mesmo. Tive que dar umas "rabadas" em alguns irmãos pelo caminho (sorry, galera), já estava "sentindo minhas forças irem embora,", meio Bruna Karla/Anderson Freire, mas, ufa, deu tudo certo. Quer dizer, quase. Rolou um estresse familiar lá pelo quarto mês de gestação da minha mãe. E eu quase vi uma luz no fim do túnel, e não era coisa boa: minha mãe, 25 anos, mãe solteira, foi levada a uma clínica de abortos, no bairro de Botafogo, zona sul carioca. Lá, naquele lugar de morte, tive a chance de viver. Vendo que o bicho ia pegar pro meu lado, dei o maior impulso que poderia e chutei a minha mãe. Era a primeira vez que ela me sentia. E teve que ser logo ali. Ela entendeu como um sinal. De Deus (ufa!) e saiu correndo daquele lugar decidida a me criar sozinha. 


Segui crescendo ali na barriguinha da mamãe, linda e serelepe (de novo!). Tanto que não deu outra: nasci numa terça-feira de carnaval. Ô abre-alas, que eu quero passar... Hahaha tudo bem, nada a ver, mas foi só pra dar uma alegrada aqui...

Nasci, cresci, fui um bebê careca como tantos. Os primeiros dentinhos, as febres de madrugada, os inúmeros remédios, as manhas, os dengos, as pirraças. Tudo igual.


Mas, num dado momento, sem ter onde me deixar, impossibilitada de ficar comigo nas vagas em que vivia morando, sozinha, minha mãe se viu obrigada a me deixar num orfanato. Não deve ter sido uma decisão fácil. Sou mãe hoje, de 3 lindos filhos. Quando #NandaEDuda foram pra creche pela primeira vez, fiquei em pedaços. Me separar daqueles dois serezinhos foi bem dolorido. Mas elas voltam todos os dias pra casa. No meu caso, minha mãe só me via de 15 em 15 dias. Eu tinha uns 3 anos. Não me lembro de tudo, obviamente, mas tenho flashes de várias situações que, relatadas à minha mãe, ela sempre se surpreende por me lembrar de algo em tão tenra idade.

E de tudo que me lembro, a cena que quase sempre me vem à mente é uma da minha mãe indo embora. Não sei quando foi, mas um barulho sempre me remota àquele lugar: o pisar em folhas secas de amendoeira. Explico. Era um dia daqueles de visita, em que as crianças, loucas e histéricas, ficavam correndo de um lado pro outro com os pais e sempre exibindo os presentes que eles traziam. Nem sempre minha mãe tinha algo pra levar, mas só dela estar ali, nossa, que alegria. Me lembro do meu quarto, que era grande e cheio de camas. Tinha um banheiro no final, que sempre ficava com a luz acesa, para casos de pesadelo. De vez em quase sempre, eu tinha. Sonhava com a minha mãe indo me buscar naquele lugar, mas ela não me achava, e eu ficava lá, presa. Esse era recorrente.

Voltando ao dia da visita. Naquele dia, minha mãe não havia levado nada de especial, mas eu não desgrudava de suas pernas. Na minha cabeça de criança, eu tinha que aproveitar ao máximo aqueles momentos: ele podia não acontecer novamente. Ela poderia não voltar mais. Com tantos havia sido assim. E, de repente, soou aquele alarme, aquele barulho quase ensurdecedor, que indicava o fim das visitas. Minha mãe se abaixou devagar, passou a mão nos meus cabelos e me disse: "a mamãe tem que ir, mas volta. Fique diretinho, se compo..." Eu já não ouvia mais nada, estava em prantos. Queria ir embora daquele lugar. Lá, a gente apanhava e não podia contar pros pais. Se contasse, apanhava ainda mais. E, claro, ninguém acreditava em nós. "Essas crianças... Sempre inventando histórias..." Me agarrei às suas pernas com todas as minhas (pequenas) forças. Mas elas eram pequenas mesmo: quando dei por mim, alguém me segurava pelo braço, enquanto via minha mãe se dirigir a um portão preto e grande que havia perto de onde ficávamos nas horas da visita. Consegui me desvencilhar da pessoa que me segurava e corri em direção a uma das grades. Consegui subir e comecei a gritar desesperadamente: "Mamãe, não vai! Mamãe! Mamãe! Mamãe..." E, de repente, tudo ao meu redor ficou em silêncio. Eu via, em câmera lenta, minha mãe se distanciar cada vez mais, e um barulho ocupou todos os meus sentidos: o pisar dela nas folhas secas das amendoeiras que se amontoavam pela rua. Eram muitas. 'Crec, crec, crec..." primeiro, devagar. Depois, o barulho aumentou drasticamente: minha mãe corria. E eu soluçava, vendo-a desaparecer... Até que alguém me puxou violentamente, me chamando pelo nome, e todos os sons voltaram ao normal. "Engole esse choro! Palhaçada! Tua mãe vai voltar, eu hein!".  

Voltou mesmo. E me tirou daquele lugar. E fomos viver juntas. As coisas haviam melhorado e ela podia, agora, cuidar de mim, me levar para escola, ser minha mãe em tempo integral. Você não faz idéia de como era maravilhoso acordar de um sonho ruim e ver minha mãe ali perto. "Nem vem, pesadelo, agora, quem está aqui perto não é a luz do banheiro: é a minha mãe!".

Dei trabalho à minha mãe depois. Aquela rebeldia idiota da adolescência. Desprezei as suas dores, esqueci as suas lágrimas, ignorei seus cuidados, dava de ombros para as suas preocupações. Até que, um belo dia, fui mãe. Na exata hora em que meu filho veio para os meus braços, nem um minuto antes e nem um depois, naquele momento, entendi minha mãe como nunca havia entendido.

Na minha "festa maravilha", fiz questão de prestar uma homenagem a ela. De agradecer por ela ter insistido em me ter, mesmo tendo ido àquele lugar. De não ter me deixado pra trás, quando pode, naquele orfanato. De, mesmo sozinha, ter-nos criado (tenho uma irmã!) com sacrifício e honestidade. De ter sido exemplo de força e fé. De ter sido a minha mãe. A melhor que eu poderia ter.

Não espere para ser mãe (ou pai) para entender o amor daqueles que lhe deram a vida. Não espere que eles morram, para prestar a homenagem que eles devem receber em vida. Não deixe que aquele "não" para um presente, uma saída, um namoro sirva para endurecer seu coração.

Você pode se arrepender depois, e pode ser que seja muito tarde para pedir perdão. O barulho do pisar das folhas de amendoeira será eterno em sua mente...






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sábado, 18 de abril de 2015

Quando o passado bate à porta...


Vez ou outra, dou uma olhada em coisas antigas que escrevo. Diante de alguns textos, penso: "sassenhora, nada a ver. Cadiquê escrevi isso mesmo?". Outras vezes, dou até um sorrisinho maroto: "puxa, hein, ficou bacana isso". E um desses meus orgulhinhos (besta, sei) segue abaixo.

Esse texto foi escrito nas últimas horas de 2014. Estava eu sentada no chão do meu quarto (precisava carregar o netbook desesperadamente hehehe), pensando no que escrever como post de final do ano para colocar no ~feice~. De repente, um filme em preto e branco começou a passar na minha frente. Todas as cenas, os personagens, as emoções, as lágrimas. E ele foi sendo escrito nesse ritmo, cheio de drama, de momentos de suspense e com um grand finale.

Relendo, pensei em editar algumas coisas, mas achei melhor deixá-lo como originalmente publicado. Espero que você goste dele tanto quanto eu. E se emocione. E que, lá no final, após uma leve suspirada, você também tenha a mesma sensação que eu: a de que é pra frente, sempre, que se anda!

RETROSPECTIVA DA  #NAPAULA

Quando 2014 tocou a ponta dos meus dedos, dizendo: “Vem...”, eu fui... com medo, mas fui. O ano de 2013 havia sido emocionalmente terrível pra mim, e não tenho vergonha de dizer isso: sou humana. Coisas boas e ruins acontecem a todos, eu não estaria imune. Apenas nos meus sonhos e nas minhas brincadeiras sou a Mulher Maravilha. Na vida real, essa maravilha de mulher aqui só tem um ‘poder’: o de crer que, apesar de t-u-d-o, Deus está no controle de todas as coisas, inclusive das que me causam e causaram dor. Ele daria um jeito, mesmo que eu não entendesse – e nem entenda–, muitas coisas...

E mesmo ainda olhando pra trás, 2014 me dizia: “vem, eu posso ser aquele ano que vai devolver o seu sorriso; posso ser aquele ano que te segurará pela mão quando você achar que não consegue mais seguir; posso ser aquele cafuné quando os seus travesseiros não forem o alento de que você precisa; posso ser o beijo de boa noite que você procura; eu posso ser...”

Eu não acreditava mais. Uma parte de mim havia desistido. Meus pés apenas caminhavam, seguindo o fluxo dos dias... E, quando eu me via sozinha (ou achava que estava), eu via anjos. Não aqueles com asas, dos desenhos animados: eram reais. Os amigos. Tantos e vindos de lugares que não imaginava. Mãos estendidas quando precisei. Ombros largos quando necessitava de apoio. Palavras, quando da minha boca já não saía som algum. Amor, quando nem eu mesma mais sabia o que era isso.

2014 me chamava pra dançar. Meus passos, tímidos, não seguiam o seu compasso. Ainda tropeçava nas minhas próprias pernas. 2014 foi paciente comigo. A cada parada, ele me esperava pacientemente. E quando eu teimava em não acreditar, ele me dizia: ‘eu posso ser, vem...” E eu fui... Devagar... Um dia de cada vez, e, a cada vez, um dia. Até que, quando eu dei por mim, já não doía tanto a caminhada. Já não era mais tão penoso o abrir dos olhos. A cada novo dia, a certeza de que era possível. Sim, 2014 podia mesmo ser aquele ano...

Se foi fácil? Não. Talvez nunca mais seja. Se está difícil? Já não mais tanto... Quando o dia do basta chega, e, graças a Deus, ele chegou, as pernas se tornaram firmes novamente. Já não dói mais caminhar sozinha. Caminho, e no salto! O rosto leve, de cabelos ao vento, carrega no batom e capricha no rímel. Na boca, sempre um sorriso. O coração, blindado, segue, agora, batendo forte e até feliz... O pensamento de que o amor machuca não existe mais. Quem nos machucam são as pessoas que não sabem amar...

2014 termina sua missão hoje comigo. Ele podia ser e foi. E se não foi mais, talvez a culpa tenha sido minha. Ele me dá um beijo na testa, um abraço apertado e me diz: “estarei, daqui a alguns minutos, apenas nas suas lembranças. Daqui, não poderei fazer mais nada. O que podíamos fazer, tentamos. Olhe pra frente agora: existem mais 365 dias pra você fazer tudo novo e melhor. Segure firme nas mãos que tocam os seus dedos agora. Não perca a fé (pois haverá dias difíceis). Não perca o foco (pois haverá momentos nem sempre tão bons). Não se deixe vencer pelo mal (por mais mal que haja). Não desista do amor (pois ele está à porta) e não tenha medo...”

Suavemente, sinto 2015 me convidando pra festa: “vem...”. Pisco os olhos para 2014 e digo: “obrigada!”, e sigo, sentindo 2015 me conduzindo rumo aos seus dias...

Daqui a 365 dias, digo como foi essa viagem. Que Deus nos leve em segurança.

Até lá!

O bagaço da laranja

A gente tem sempre pessoas em quem se inspirar. Se você não tem, procure. Vai te fazer um bem danado...

Alguns anos atrás, lá nos idos de 2000, quando trabalhava em um jornal, conheci uma jornalista/repórter/escritora de nível acima da excelência: Iolanda Ribeiro.

Um pouco doidinha, como todo jornalista deve ser; sempre falante, como todo jornalista deve ser. Não, pera: ela era muito falante. Não. MUITO. Io, você falava demaaaaaais hahahahaha Mas não tinha como não admirá-la. O texto dela era sempre maravilhoso, uma delícia de ler. E eu, à época, como revisora, quase não achava nada pra fazer em suas matérias. No máximo, uma vírgula mal colocada e só (por pura distração, eu sempre pensava).

Tempos depois, por indicação dela, fui trabalhar em uma outra empresa, na qual ela já estava. Era uma revista. Iolanda era articulista e eu, mais uma vez, revisora. Certa vez, ela escreveu um texto tão bonito, uma crônica tão linda, que eu me senti ~obrigada~ a guardar. É o texto que se segue abaixo. É pra ler sempre que você se sentir "um bagaço". Porque até um bagaço tem mil e uma utilidades, e olha que não é Bombril.

Obs.: Iolanda, quero que você saiba que sou sua admiradora. Eu quero escrever como você um dia. Parabéns pela sensibilidade e trato com as palavras. Você é rara!

Crédito: Divulgação na Internet


O bagaço de laranja não é tão inútil quanto parece. Ele ainda serve para muitas coisas: 

Ele pode ser usado como adubo orgânico e também para semear o campo, porque todo bagaço ainda tem alguns caroços, podendo deixar de ser a lembrança de uma laranja esmagada e se converter em um novo laranjal.

Na culinária, pode ser usado para fazer doce de laranja e, além disso, sua casca ralada costuma ser eficaz para temperar o arroz doce. Há quem o transforme em licor de casca de laranja e quem se contente com um delicioso chá.

Ainda que não soe poético, ele também serve para alimentar a flora intestinal que nos defende dos micróbios causadores de doenças, bem como para regular o funcionamento do intestino e curar prisão de ventre.

Tem dificuldade para espirrar? Cheire um bagaço ligeiramente torcido para dar um bom espirro. E, por falar nisso, os químicos podem fazer um delicioso perfume com o bagaço de laranja.

Ele ainda pode ser usado para matar a fome de um menino pobre, que não ficaria saciado apenas com o caldo de uma laranja. E, se ao invés de faminto o garoto estivesse triste, o bagaço poderia ser usado para a gente improvisar um brinquedo, fazendo um barquinho com a casca seca. Isso tudo sem considerar que ele poderia virar uma cuia improvisada para alimentar passarinhos, dar água para os pombos ou colocar ração para um cãozinho de rua.

Quer mais? Um bagaço de laranja serve para guardar uma muda de planta quando não temos um vaso. Quando está bem seco, se atirado ao fogo, serve como combustível e alimenta as chamas de uma fogueira de acampamento. E, quando ainda não secou, também pode ser queimado para espantar mosquitos.

Pode virar uma tigela para servir sorvete de laranja ou mousse. Com alguns palitos espetados de maneira criativa, ele pode até virar um arranjo de mesa em uma festa de primavera... 

A utilização de um bagaço vai depender da maneira como ele foi golpeado ou do tipo de corte que recebeu. De qualquer forma, quem o despreza não é capaz de perceber tudo quanto está perdendo.
Grande coisa é ser um bagaço de laranja! Glórias a Deus pelo bagaço de laranja! Um bagaço de laranja não tem medo de ser chutado, moído e amassado, porque já perdeu o orgulho das laranjas.

Por isso, caso você esteja se sentindo inferior e desprezado, quero que entenda uma grande lição: se um bagaço de laranja ainda serve para muitas coisas, imagine o que Deus pode fazer com uma vida preciosa como a sua.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

NaPaula e o tempo...

Lá pelos idos de 1990 (sim, vivi essa época!), no auge dos meus 15 anos, ao projetar meu futuro, eu pensava: nossa, daqui a 15 anos, eu terei 30. Meu D-e-u-s, 30! O que será que vou ter vivido nos próximos 15 anos? Sim, porque a gente só começa a ter consciência da vida lá pelos 13, quando a gente descobre, de fato, que a vida tá aí bem na nossa frente, que há os meninos, que há um monte de coisa pra ser vivida (mas isso é assunto pra outro post).

Pois é. Então. Aí fiz os tais 15 anos (pera que eu quero abrir aqui meu coração: não tive festa de 15 anos, um trauma que trago até hoje. Nem um bolo solado, nada, zero. Arrasada até hoje...).

Pois bem... Fiz os tais 15 anos... E o tempo começou a voar de repente. Quando abri os olhos, estava indo pra faculdade (passei no vestibular - alguém ainda sabe o que é isso?!? - aos 17). Aos 22, estava me formando. Com 23, comecei a trabalhar. Aos 25, me casei. Com 27, fui mãe. E, de repente, 30! Isso foi ali em 2005. Como assim, gente, já se passaram 10 anos desse acontecimento??? É... Passou...

Passou e, ao contrário do que minha parte nova pensava, eu não estava medonha, não tinha morrido pro mundo mulherístico e estava cheia de sonhos e coisas boas pra viver.

Fiz 35 num galope. E eis que, recentemente, entrei para aquela faixa de idade eterna: os "enta". Tudo bem que eu acho que vou até 120, vovó-gatinha total, esbanjando saúde, super lúcida, contando meus causos pros bisnetos, que ficarão atônitos e pensarão: "caraca, minha bisa era sinistra".

Fiz 40. Uau, qua-ren-ta. Quatro décadas. Como eu me sinto? Super-hiper-mega-ultra bem (todos os prefixos querem dizer a mesma coisa, tá, só parecem dar um grau maior de grandiosidade). Não sinto o peso da idade imposto pela sociedade. Sinto uma enorme vontade de viver, de rir, de ser feliz. De (re)escrever minha história, a partir dos sonhos de Deus e não mais da minha vontade. Porque sempre me ferro (desculpe o termo pouco ortodoxo) quando (só) quero fazer o que me dá na telha. Chego aos 40 com algumas cicatrizes. Putz, e algumas ainda doem. Não estão tão fechadas. Mas já não sangram. E, quando olho pra elas, lembro: não morri. Sangrei até quase morrer, mas não morri. E dou uma pela língua pra elas.

Estou mais bonita (principalmente quando olho fotos um pouco mais antigas hahahahaha). Gente, sério: o tempo nos melhora, acredite!!!! Se você se sente feia(o) agora, calma! Daqui a uns anos, você vai ter certeza disso, mas vai se achar bem melhor hahahahaha...

Voltando... Estou mais bonita, mais segura, mais um monte de coisa. Também não vou ficar aqui jogando confete em cima de mim mesma, porque isso é chato. Ok: o espaço é meu e eu poderia ficar horas e horas, quer dizer, palavras e palavras dizendo como sou legal, gente boa, amiga, interessante, modesta, hahahaha pois é. #parei.

Não tenho medo do tempo. Já vi que estou com rugas novas. Não, rugas, não: marcas de expressão rs. Vai chegar uma hora em que os hidratantes e os cuidados não mais disfarçarão nada. E realmente precisamos? Tá, precisamos! hahahaha Mas vá sem exagero. Cuide-se sempre. Mas que a gente sempre se lembre que o nosso melhor reflexo vem de dentro!

Crédito: Cristiano Nogueira

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terça-feira, 14 de abril de 2015

Fiat Lux ou Gênesis!

Foi lá na 8a série, sob o comando rígido da D. Neide, minha professora bravíssima de Português, que comecei, de fato, a escrever por e com gosto.

De ler, eu já gostava há tempos: era até escolhida para ser 'oradora' nas festividades da escola. E, nas aulas, sempre lia os textos. "Ela tem boa entonação, parece até que interpreta", diziam alguns professores. E eu interpretava mesmo. Adorava fazer vozes diferentes na mudança dos personagens. Acho até que isso me ajudou quando fiz uma peça de teatro. Mas isso já é assunto para um outro post...

Voltando ao assunto de escrever... Quando estava naquela encruzilhada do fim do 2o grau, vendo-me tendo de escolher meu futuro (e alguém, aos 17 anos, está pronta pra escolher alguma coisa?!?), olhei para as opções e pensei: tem que ser algo nessa área da escrita, gente... Leio, procuro lá as contas de candidato por vaga e... LETRAS! Bingo, olha que fácil! L-e-t-r-a-s... Tudo a ver! Sabia de nada, essa inocente aqui. De fácil, só as noites em claro estudando Filologia Românica, Latim I, II, III, Etimologia, Sintaxe, Literaturas sem fim...

Quantos dias pegando carona, porque a grana era curta. Quantos dias filando biscoito das amigas, porque a grana era curta. Quantos dias na Biblioteca do ICHL estudando sem fim, porque a grana era curta para a imensidão de xerox e livros. Quantos dias...

Mas, no dia 15 de março de 1997, fiz valer cada dia daqueles. Minha mãe, minha irmã, minha tia eram a minha platéia. Ao som de Carmina Burana (Oh Fortuna), entro eu, com a minha beca impecável (que escondia um vestido vermelho lindo por baixo - à época), equilibrando-me num salto altíssimo, morrendo de medo de cair e parar numa daquelas videocassetadas do Faustão. Não caí.

Recebi meu canudo e o apontei na direção da minha mãe: CONSEGUIMOS, gritei. A primeira da família com diploma universitário, que orgulho. Dela, meu, de todos. E adivinha quem foi a oradora da minha turma? Pois é. Eu. E ainda sei meu discurso de cor até hoje, e sempre me emociono ao lembrar daquele dia...

Ai, ai... O tempo passou rápido. Dezoito anos, para ser exata, desde aquele dia 15.

Em 2000, o Jornalismo entrou na minha vida. Juntei duas paixões. Comecei com revisão, depois matérias até chegar ao cargo de Editora. Migrei pra Assessoria de Imprensa alguns anos depois, quando "caí" no ramo fonográfico. E, hoje, aqui estou, voltando aos meus tempos de escola e escrevendo coisas minhas nessa imensa folha em branco.

E do que tratará o blog? Boa pergunta! De quase tudo. Ou tudo, (ainda) não sei. E por que "AhNaPaula"? hahahahaha Invencionice pura. Nas minhas postagens mais ácidas ou irreverentes ou irônicas ou tudo junto ou não tendo nada a ver, eu sempre coloco a hastag (#) #napaulanapaula, uma forma de brincar com o jeito que minha mãe me chamava a atenção quando eu fazia algo que ~ela~ considerava errado. Era um "Na Paula, Na Paula". O "a" sumia, assim como toda a minha coragem em seguir adiante na ~arte~ que eu estava fazendo. A interjeição "ah" (gente, olha ela aí lembrando de coisa que ninguém fala mais!) é só uma brincadeira com o meu nome....

Bem, é isso. Esse é o começo de tudo. Vai ser divertido. Mas pode haver dias em que não serão.
Se você quiser, pode vir comigo. Você vem?

Boa leitura


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