sexta-feira, 15 de setembro de 2017

O inevitável e o imperfeito de cada um de nós...

Quando você descobre que está grávida, milhões de sensações tomam a sua mente. E, muito mais importante do que "menina ou menino?", o que a gente quer sempre é que o bebê seja saudável e perfeito. Nenhuma mãe e nenhum pai pensa ou sonha diferente disso.

Só que há fatores sempre acima do nosso parco controle e 'voilá': aquele pai e aquela mãe, que já haviam preparado mentalmente toda a vida do filho, precisam se ajustar a algo "diferente" no rebento. Passado o choque inicial de descobrir que o filho não é "perfeito" (quem é, né?), o futuro é o que mais preocupa: como será? E a gente vai descobrindo que o presente é o mais importante e é nele que a gente vive. Não podemos adiantar 1 min do tempo, então o jeito é viver o hoje mesmo...

Como eu contei aqui há alguns posts, Nanda e Duda foram, inicialmente, diagnosticadas com autismo. A "profissional", seca como uma árvore no deserto, não teve tato pra me falar do assunto. Desmoronei por dentro, mas, depois de muita lágrima e culpa - porque culpa é quase um sobrenome nas mães, apesar de não termos culpa de nada-, arregacei as mangas, lavei o rosto, prendi o cabelo e me levantei pra conhecer o inimigo. Não era o monstro todo que eu pensava, talvez um pequeno monstrinho, escondido atrás do armário, esperando um momento para me dar um "buuu". 

Essa semana, elas foram liberadas pela psicóloga: não têm a tríade do transtorno, mas há uma "pincelada" que precisa ser cuidada cotidianamente, para que a linha limite esteja sempre muito à frente delas. Agora é aumentar as visitas à fono. O neuro "acha" que em 2 anos a fala delas esteja dentro do que se espera para a idade que têm. 

E a mãe? A mãe segue firme, tanto quanto pode. Há dias fáceis e há os de hoje, porque cada dia é único. E ela lembra que basta a cada dia seu próprio mal, não devemos levar o mal do dia anterior para o novo. Mas, às vezes, ela esquece e chora dores velhas... Mas ela sabe que vai passar... Tudo passa... Até o dia de hoje passará...


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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Não se firme em palavras soltas...

Vagabunda, drogada, prostituta. Palavras fortes, mas foram essas que lançaram sobre mim um dia. "Não vai ser nada na vida". É duro ouvir isso de quem deveria procurar zelar pelo seu emocional, ou que, mesmo não estando perto, deveria querer o seu bem. 

Os caminhos de dificuldade que trilhei, TODOS, forjaram a mulher que eu sou hoje. Tudo aquilo que vivi, e talvez você jamais entenda, fomentaram os pensamentos e valores que hoje tenho.

Nunca me droguei, sequer vinho eu já experimentei nessa vida! Nunca me prostituí e trabalho desde os 22 anos, logo após minha formatura. 

O ambiente que você vive não precisa ser o seu, entende? Use tudo isso que magoa você pra te impulsionar pra frente! Se você cresceu em um lar sem amor, quando tiver sua família, ame-a com todas as forças! Se você não recebeu palavras de encorajamento, olhe-se no espelho e diga, todos os dias: você pode! 

Mostre que eles estão errados, não porque você precise provar algo, mas porque você pode! Vai doer essa caminhada? Vai! Vai ter riso e vai ter lágrimas. Mas, no final, você vai sentir um orgulho danado de ser o que é!


Vai pra cima! Procura os meios, faça caminhos: você será sempre seu maior orgulho!!!


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terça-feira, 12 de setembro de 2017

O dia que a morte sentou-se ao meu lado...

Eu não me lembro qual dia da semana era, nem exatamente em que data foi, mas me lembro bem do ano: 2013. Eu estava vivendo um momento terrível, talvez o pior de tudo que vivi e que me lembre de ter vivido até aqui. Estava há dias sem dormir direito, ia para o trabalho no automático, chorava o dia inteiro e só queria dar um jeito de não sentir mais aquela dor terrível que me consumia minuto a minuto. E não: não estou exagerando, não estou poetizando, não estou floreando o pavão. O que conto aqui e relato abaixo é absolutamente verdadeiro e sincero.

Apesar de ter várias pessoas ao meu lado naquele momento, eu me sentia absurdamente só. Por mais palavras de ânimo que eu ouvisse, havia um vazio no meu coração e na minha mente que me paralisava. A sensação que eu tinha era de estar presa em algum lugar pequeno e assistindo, em looping infinito, à mesma cena. Eu só queria que aquilo parasse...

Não era falta de Deus: sempre fui ativa em minha fé. Não era falta de ‘serviço’ em casa: toda organização dela dependia de mim. Não era por falta de ter uma “responsabilidade”: eu tinha um filho de 11 anos (à época) pra criar e um trabalho que amava. Nada disso, porém, me impediu de me afundar dentro de mim, e a dor foi ficando in-su-por-tá-vel... Até que numa daquelas noites terríveis de insônia angustiante, entre soluços e muitas lágrimas, me lembrei da caixa de remédios... Meu filho dormia no quarto ao lado sem saber de nada. Abri meu guarda-roupa, peguei a caixa que ficava na parte de cima e coloquei na cama. IMEDIATAMENTE, como Deus existe e isso aqui não é brincadeira e nem piada, ouvi uma voz mansa me dizendo: “Toma, vai passar. Vai passar, toma...!”. Eu quis sentir aquela paz que a voz me passava. Não pensei duas vezes: juntei todos os comprimidos na mão, abri os vidros e... PAH! Um enorme clarão tomou conta da minha mente (isso tudo foi rápido demais, questão de segundos). Me vi caindo na cama, alguns remédios indo ao chão (eu os via pulando no piso) e vi meu filho entrando no meu quarto, me sacudindo, me gritando, olhando de um lado pro outro e se vendo sozinho, aos prantos... Aquele clarão se foi tão rápido como surgiu, como cena de filme... E eu estava exatamente no mesmo lugar, com os comprimidos na mão e os vidros de remédio abertos entre as minhas pernas... Eu me joguei no chão e chorei muito. Entendi o ‘recado’ que havia recebido e chorei muito, muito mesmo. Pedi perdão a Deus por tentar dar cabo da minha vida. Fui até o quarto do meu filho, dei um beijo nele e pedi perdão a ele também, em silêncio. Voltei para o meu quarto e joguei todos os remédios fora. Sentei-me no chão e chorei mais um monte. De onde eu estava, via o céu pela janela. Dali mesmo, comecei a falar com Deus sobre tudo (ok, Ele já sabia, Ele me via, mas eu precisava falar). Falei o quanto estava sendo difícil passar por tudo aquilo, da minha dor, da deslealdade sofrida, da minha raiva, da minha sensação de impotência em relação a tudo que estava acontecendo, daquela minha monstruosa sensação de solidão e chorei mais uma vez.

Quando terminei aquele desabafo com Deus em meu quarto, senti uma paz que não consigo descrever. Me senti calma como não experimentava há muito tempo, e senti, no coração, e não mais de maneira audível, o seguinte: “Eu nunca deixei de estar aqui. Eu estou do seu lado todos os dias. Eu vi todas as suas lágrimas... Não está sendo fácil, não vai ser fácil, mas não será impossível essa caminhada. Lá na frente, você vai entender...”

Por mais que muitas pessoas me dissessem isso, e não foram poucas, AQUELA resposta foi direto ao meu coração. Realmente, não foram dias fáceis. Eu precisei enfrentar a mim mesma todos os dias. Eu precisei não me deixar sucumbir pelos dias maus – e não foram poucos. Logo após tudo isso, eu descobri que estava grávida, de gêmeos. Precisei me manter sã por conta daquelas vidas, por conta da minha vida, do meu filho que também dependia de mim. Repito: não foram dias fáceis. Não foram. Além dos hormônios da gravidez, eu precisei saber lidar com os maus pensamentos, com aquela sensação de ter alguém à espreita esperando pela minha fraqueza para poder aparecer novamente. Eu não fui forte por ser forte. Eu fui forte porque PRECISEI ser.

Nas minhas postagens daquela época, eu colocava as hastags #umdiadecadavez #cadavezumdia para me lembrar que iria passar. E passou. Eu chorei durante 1 ano. In-tei-ro. Todos os dias, absolutamente todos, você entende o que isso significa? Mas passou. Sempre passa. Demora, mas passa.

Por que você está contando isso, poderia guardar isso pra você”. Realmente, poderia. Mas eu, que sempre amei a vida e amava viver, decidi morrer. E a morte foi me buscar, de tanto que pensava nela, naquele dia, naquele quarto, naquela noite. E por uma faísca de misericórdia, talvez pela força de tanta gente que orava por mim e eu nem sabia, talvez porque realmente não era a minha hora (e eu acho que nunca é quando você decide morrer), talvez porque eu precisasse viver isso pra poder ajudar outras pessoas, cá estou falando sobre isso. Eu poderia não contar mesmo e ficar com essa experiência só pra mim, mas quero poder ajudar alguém com esse relato. Se esse texto alcançar uma pessoa, puxa, eu vou entender que houve um propósito naquilo tudo que era além da minha pequena compreensão à época.

Se você está passando por um momento de dor absurda, se não sente vontade de fazer nada, nem as coisas de que tanto gostava, se você não queria nem acordar mais hoje, por favor, leia até o final. Não execute esse plano. Há inúmeras pessoas que se preocupam com você de verdade. Você fará uma falta tremenda pra elas. Não é o fim, posso te dizer. Não é a sua hora! Você vai achar uma solução para isso que parece ser um problema gigantesco. Essa voz de paz que te chama para um pseudo-descanso só trará mais tormento, ME OUÇA. Não sei se você tem fé. Me faltou também algumas vezes, confesso. Mas Aquele que tudo pode jamais te abandonou. Não desista dEle: só estique sua mão. Se puder, procure ajuda especializada. Psicólogo não é para “maluco”: é só para quem é muito esperto e vê que um apoio específico pode (e vai) ajudar a ter uma visão mais ampla desse horizonte tão nebuloso. Quero te ver bem. Força! E me dê notícias.


Bjs napaulísticos


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quinta-feira, 27 de julho de 2017

Os filhos, a mãe e a creche...

Quando minha mãe me visitava no orfanato, a pior hora, segundo ela, era a da despedida. Tocado o sino, os responsáveis tinham que sair por aquele enorme portão preto, sem olhar pra trás...

Ela conta que ouvia meus gritos e meu choro mesmo quando já estava muito longe daquele lugar. Ecoavam...

O mesmo eco que está agora nos meus ouvidos, quando deixei Nanda e Duda na escola, após a sessão com a fono e a psicóloga.

Dói, dói bastante. Acho que dói mais que a culpa que a gente sente em não poder entrar, ficar e acalmá-las até que o choro cesse. Eu sei que elas não vão se lembrar de nada disso, eu sei... Mas dói. Toda terça dói...

#NaPaulaSeSentindoCulpadaEChorosa #BenditosHormônios


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sexta-feira, 2 de junho de 2017

Minha nada mole vida de mãe...

Tava eu lá apagada, no meu décimo sono, quando acordo com os berros de Eduarda: "mamãaaaaaae, mamãaaaaaae, vem cáaaaaaa!".

Nos primeiros 2 segundos, achei que ela acordou e estranhou não estar na minha cama (transformei os berços em caminha, pra ver se elas se apaixonam tanto pela cama delas quanto são apaixonadas pela minha - a coluna da mãe agradece!), mas o segundo berro estava bem apavorado, ao que dei um pulo e já "caí" no quarto delas.

Mesmo com tudo apagado, enxerguei a cena: ela, sentada, vomitando pra tudo que é lado, nervosa ao quinteto. Respiro fundo, seguro a mão dela, digo que está tudo bem, que a mamãe vai ajudar. Espero pelo último "passar mal" e levo voando pro banheiro. Ligo o chuveiro, tiro a roupa dela e a deixo aproveitando a água quentinha. Enquanto isso, corro lá embaixo, pego Veja e pano e subo correndo pra limpar o quarto. Lençol e travesseiro vão lá pra escada, bem longe! Limpo cama, colchão e troco a roupa de cama.

Volto pro banheiro e ela está lá, meio sem saber o que aconteceu. "Mamãe, saiu pela boca". Sorrio e digo: "Foi, meu amor? Mas já passou..." Enrolo na toalha, levo pra minha cama, troco de roupa e pergunto, de novo, se está bem. "Tudo bem, mamãe".

- Mamãe, faz dederinha?
(- Nem pensar, penso. Mamadeira de leite com nescau depois dessa tragédia?)
- A mamãe vai trazer um pãozinho, pode ser?
- Pode ser...

Desço e pego um pãozinho Panco, sem nada. Ela come e já quase dorme. Vigio até pegar no sono. "Que horas são, meu Pai?!?" Olho no relógio: 1h50. "Ah, não vou lavar lençol essa hora, ainda mais no frio!" Jogo no tanque. "Quando elas saírem pra creche amanhã, resolvo!" São 2h30 agora. Ambas dormem a sono solto. E a mãe aqui não consegue "desligar". Amanhã, mais um capítulo da série The walking Paula.

Por favor, tenham mais paciência com as mães. Sempre. Enquanto vocês dormem, tem sempre uma no plantão da madrugada...

Bjs da NaPaula

Escrito em 31/05/2017






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sexta-feira, 5 de maio de 2017

Uma música, uma saudade e um pedido...

Ouvi a nossa música mais uma vez hoje. Na verdade, deve ser a milésima nonagésima vez. Quando aperto o repeat na playlist, ela quase me olha, dizendo: “cansa, não?!?” Não, não canso. Nem da música, nem das lembranças que ela me traz. E ela me traz você todas as vezes, como cansar?

Ela me traz aquele seu sorriso franco, aquela gargalhada gostosa e barulhenta que eu adoro. Ela também me traz a tua presença e o teu perfume, aquele que me entorpece os sentidos e me coloca na boca um quê de quero mais.

Ouço-a repetidamente, enquanto faço carinhos imaginários em você de olhos fechados. Seus cabelos passam entre os meus dedos, sua textura fica no meu tato e eu quase te abraço de tanto bem-querer.

Ouço, ouço mesmo! Ouço a caminho do trabalho, com o volume mais alto que meus tímpanos aguentam. Ouço e cantarolo, expondo pros que me olham que você é a minha música preferida. Ouço e danço, ao som do nosso embalo frenético e recorrente. Ouço e balbucio seu nome: cada letra, cada som, cada fonema, cada tom, cada eu e você que ela permite formar.

Ah. vem cantar comigo a nossa música, vem! Vem errar o tom, errar na mão, acertar no passo, nesse compasso que a gente inventa bem. Vem! Vem, sem plateia, só nós, a sós, a dois, assim, em você, em mim. Vem!

Vem, que a nossa música está tocando mais uma vez e eu vou ser sua novamente pelas letras da canção.

Vem!

Ao som (e risos) de Medo bobo, Maiara e Maraisa



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segunda-feira, 10 de abril de 2017

O coração, a razão e a hora de ir...

A dor é indescritível. Ela percorre cada parte do meu corpo e parece doer ainda mais ali, naquele músculo que fica bem no meio do meu peito. Coração. A culpa é sempre dele. Meu cérebro bem que avisou, o sexto sentido deu vários sinais, mas o coração, olha, ô bichinho fraco. A culpa também é sua! Claro que é! Culpa desse sorriso lindo, desses olhos que cativam, dessa mão que afaga, dessa voz que inebria... 

Por falar em inebriar, estou tonta. Não, não bebi... Apenas te vi com outra pessoa... A gente sabia que isso iria acontecer cedo ou tarde. Bem que eu queria que fosse tarde, ainda tinha esperanças de que nos veríamos mais uma vez, e outra, e outra, até que deixaríamos de ser encontros esporádicos para nos tornarmos eu-e-você, com direito a declaração de amor em nossas redes sociais e fotos com cara de casal feliz.

Mas isso não vai acontecer... Aí está você, em uma mesa próxima a mim e nem me viu. Penso em fingir que vou ao banheiro, só para esbarrar na sua cadeira. "Deixa de ser idiota", diz meu cérebro. "Aja como adulta e supere isso, afinal, vocês não tinham nada sério". A pontada aumenta. Coração reage. "Se eu fosse você, iria mesmo, só pra ele ver que você não está em casa, de blusa de malha e meias, assistindo uma série qualquer, como ele supõe. Humpf". 

Fico a lembrar dos momentos que tivemos: do brigadeiro de panela, naquele dia com chuva; dos passeios de bicicleta no seu bairro; dos banhos de mar e dos beijos salgados. Da sua teimosia, do seu cafuné, do seu beijo bom. Ah, do seu perfume, que vira e mexe vem se esconder no meu olfato. Do seu tato, do nosso contato, dos sons que até o nosso silêncio era capaz de ouvir... Por um segundo, abaixo a cabeça e entendo que o plano era sermos ou estarmos felizes. Você estava, e era isso que importava. Eu deveria ser ou serei. 

Respiro fundo e prefiro ouvir meu cérebro, o mais sensato de nós. "Me desculpa, coração, mas é hora de ir. Há meias e uma camisa de malha cinza nos esperando. Te dou um chocolate, pode deixar".
E seguimos nós, cérebro, coração e eu, sabendo que chega uma hora em que é preciso ser feliz sem ter alguém que já é feliz sem a gente.

Ao som (e lágrimas) de Corazón partío, Alejandro Sanz...




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quarta-feira, 8 de março de 2017

Para você que vai chegar...

Eu pensei que você chegaria para o meu aniversário. Eu sei, ansiedade... Mulher, né, você sabe... Imaginei você preparando uma festa surpresa, convocando nossos amigos, minha cara de besta, o primeiro pedaço de bolo seria nosso (ainda não sei dividir comida, tenha paciência!)... Eufórica, abriria o presente, como criança. Lá dentro, aquele cordãozinho de ouro que paquero há meses, delicado como os carinhos que você me faz... Daríamos um longo abraço, eu te olharia nos olhos, encostaria meu nariz no teu, fecharia os olhos e te daria um beijinho rápido, já que você não gosta muito dessas demonstrações em público... Riríamos juntos, dançaríamos a nossa música, seria uma noite feliz, como venho sonhado faz tempo...

Mas você não chegou...
Uma parte de mim embruteceu, sabe, acha que isso tudo é bobagem, é perda de tempo. Vive mandando eu guardar esse amor na gaveta, até que eu não me lembre mais, como se fosse uma conta antiga, já paga, esquecida no fundo do móvel. Eu tentei ser assim, juro. Até fui. Mas há uma outra parte de mim que insiste em manter o jardim em ordem. Essa parte me rega, pra que eu seja flor e não pedra. Ela ainda sonha, tola que é. Sonha com os passeios de mãos dadas que eu gosto tanto. Ela diz que ainda vamos dar a nossa volta na Lagoa e tomar água de coco por lá. Passearemos de bicicleta até ficarmos com as pernas dormentes! Essa minha parte Insiste pra que eu não esqueça como era bom ter em quem pensar e pra quem voltar. Eu tento desistir, mas essa parte não deixa.

E é essa parte, meu querido, que ainda escreve pra você, que ainda olha pela janela todos os dias e diz pra si mesma: sorria, pode ser hoje!

Às vezes, rabisco nomes imaginários no papel, e rio de tamanha bobeira. E aí penso: Será que em algum lugar você também rabisca meu nome? Será que pensa em como eu seria? Imagina o tom da minha voz e o brilho da minha gargalhada? Com que cor você colore os meus olhos? Qual a altura que você imagina que eu tenha?

Abaixo a cabeça. A parte bruta diz novamente pra eu endireitar a postura e respirar fundo, enquanto a outra diz: "tudo bem, eu enxugo essa lágrima que quis evaporar no seu rosto"... (Agradeço, sem que a outra perceba) "Não fica assim, não! Quando menos esperar, ele vem, ele chega. E você vai saber que ele veio pra nunca mais ir, e a pedra será flor novamente..."

Que assim seja... Até mais, Boás



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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Eu sinto muito...

Era pra ser um dia como outro qualquer. Ela acordou no mesmo horário, como de costume, após o barulho estridente do despertador.

Levantou-se, caminhou até o banheiro, e abriu o chuveiro devagar. A água estava tão quentinha. Entrou de cara, molhou as costas. Usou o sabonete líquido de sempre. "Não posso me atrasar", pensou enquanto deixava a água escorrer pela nuca. 
A roupa já estava separada em cima da cadeira. Arrumou-se rápido. Colocou o brinco olhando para o espelho, ajeitou o cabelo, passou o batom. Tirou o excesso, olhou as horas e fez cara de quem estava em cima da hora. Passou a mão na bolsa, colocou-a no ombro e desceu a escada em galopes apressados. "Tchau, mãe!", disse enquanto pegava a chave do carro em cima da mesa. "Vai com Deus, minha filha", ela ouviu de longe.

O sol estava a pino. Ela colocou os óculos escuros, abriu o portão e, a partir daí, tudo o que ela mais temia aconteceu... Ela não sabe se já esperavam por ela ou se ela foi uma escolha ao acaso. Era início da manhã... Ela só percebeu do que se tratava quando viu a arma. "Perdeu, perdeu! Passa tudo!" Ela demorou a entender, foi tudo muito rápido. Empurram-na na calçada... "A bolsa, a bolsa!", os pedidos eram feitos entre gritos e palavrões... Ela entregou e nem levantou a cabeça... Até que ela ouviu sua sentença: "Leva ela!"

Um pavor percorreu cada centímetro do seu corpo. Uma descarga absurda de adrenalina, os batimentos descompassados, lágrimas, choro, terror. Do banco de trás, ela via sua casa desaparecer... Não adiantou pedir: "por favor, me deixem ir. Fiquem com tudo..." Eles queriam mais...

Após aterrorizarem-na com palavras, gestos e tudo o mais de abominável que se possa imaginar, decidiram pelo hediondo. Naquele lugar para onde a levaram, ninguém ouviu seus gritos. A cada "não!", o peso da mão do algoz a acertava no rosto. Em cada pedido de desespero, a ponta da faca sangrava sua pele. Diante do inevitável, os olhos paralisaram no teto, e ela viu cenas da sua vida: o cachorro da infância; as brincadeiras com os irmãos; o beijo na testa que o pai dava antes de sair; o amor da sua vida; o último Natal; os fogos do Ano-Novo... Até que, de repente, sua mente se desligou, para que a alma não sofresse tanto... 

Quando os seus olhos se abriram novamente, ela não sabia se havia morrido ou se estava presa em um pesadelo... Tentou se mexer, e uma dor lancinante percorreu toda a sua carne. Fechou os olhos novamente, com medo de ainda ter alguém ali. Não havia som algum, então ela abriu os olhos novamente... Levantou devagar a cabeça, na tentativa de ver onde estava. Seu corpo estava ensangüentado... Não viu suas roupas, nem havia nada com que pudesse se cobrir. Apoiou-se no chão. Arrastou-se até onde pode e encostou-se na parede. Olhou ao redor, olhou novamente pra si e caiu em um choro silencioso. Não haviam tocado apenas no seu corpo, tinham ferido profundamente a sua alma... E era uma dor que remédio algum aliviaria naquele momento...

Ela conseguiu se levantar, abriu a porta daquele lugar e saiu caminhando sem direção. Não fazia idéia de onde estava, mas lá na frente avistou uma luz. Vergonha, medo e impotência a acompanhavam. Bateu no portão, e quando ele se abriu, ela só conseguiu dizer: "me ajuda"... 

Um lençol estampado devolveu-lhe a dignidade no momento. Não sabiam o que fazer, se podiam tocá-la. E choraram. Todos choraram. Silenciosamente, todos choraram. Ela quis tomar um banho, mas disseram que seria melhor ir para a delegacia primeiro. Ela pediu para fazer uma ligação, e foi pra ele. Ele que sempre soube o que fazer... "Me tira daqui..."

Sirenes, polícia, hospital, corpo de delito, curativos, coquetel de remédios, perguntas, choro, "como será que ela estava vestida", banho. E, no banho, ela tentava esfregar a dor, a raiva, os porquês, a frustração, o ódio... E chorou tanto e tanto que já não suportava mais chorar.

Deitou na sua cama, olhando pra parede. A voz sumiu, o olho petrificou, a alma saiu dela. Ninguém diz nada, ninguém pergunta nada. Apenas dizem: "estamos aqui".

Quando eu soube o que fizeram com ela, chorei. Meu corpo todo tremia de pavor e raiva. Ela vivenciou a violência em sua pior forma. Ela não ouviu falar; ela sentiu. E eu quis tanto abraçá-la, quis ir lá e colocar a cabeça dela na minha perna e fazer um carinho no cabelo dela. Eu chorei muito. E até agora penso nela. Não consegui desligar... Eu sinto muito por você ter passado por isso, sinto muito. Há uma dor no meu coração que você não sabe, talvez porque eu entenda tudo que você tenha passado, e eu jamais gostaria que alguém passasse por essa dor também... Eu sinto muito! Perdoe os que se sentam na beirada da cama e nada dizem... Eles não sabem que palavras usar... Eu sei que você não sabe como vai sair disso agora. Mas essa dor não será para sempre. Ela vai ter um tempo. Estaremos todos esperando por você aqui, pelo seu sorriso, pela sua vontade enorme de viver...

Vai passar.
Vai amanhecer.

Até lá...


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E lá se vão 3 anos...

Elas ainda dormem, enquanto escrevo este texto. São 6h30, sexta-feira, 17/2. Olho para elas com encanto, dou um sorriso de fechar os olhos, olho pra janela (o céu azul, sem nuvens) e digo a Deus: obrigada!

São 3 anos sendo mãe de maneira intensa. Eu achei que não iria conseguir, eu chorei, eu quis sumir, mas ainda estou aqui. Aprendi a me virar ainda mais, aprendi a ser ainda mais forte, tive que ser. 

Há três anos, choro e rio. Sou fortaleza, apesar de todas as minhas fraquezas. Elas são a minha coragem de todos os dias, apesar dos medos. Elas são a força do meu corpo, apesar da barriga (ainda) flácida rs. Elas são o aumento das minhas despesas, sem nunca ter nos faltado nada! Elas são o amanhecer diante da noite escura. Elas são o carinho de Deus oferecido em meio a pior tormenta que enfrentei. Elas são a necessidade de ir, mesmo quando se quer ficar.

Elas mudaram meus horários, troquei noites por dias, não tive dias, não tive noites! Não tive mais liberdade, não tive mais privacidade rs, não tive mais um monte de coisas...


Mas, apesar de tudo, o balanço ainda é positivo e reafirmo, com todas as letras, Deus estava certo quando as mandou pra mim: eu precisava delas!


Parabéns, meus amores! São apenas 3 anos de muitos! Mamãe já quebrou as pedras para vocês andarem: o caminho não machucará os pés de vocês. Venham sem medo! E quando a mamãe faltar, ou se eu faltar, Aquele que nunca nos deixou levará vocês pelas mãos...

Feliz aniversário, Nanda e Duda. Mamãe ama vocês para sempre! ❤❤

Festinha na escola com o tema O Show da Luna

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Porque você não merece saber...

Eu havia excluído seu número da minha agenda de contatos: queria evitar ficar abrindo sua tela, procurando pelo "visto por último", mais conhecido por "nem me chamou, quando entrou da última vez".

Mas, hoje, especialmente hoje, senti vontade de te "ver". Não adiantou fingir que não sabia seu número de cor: em segundos, os dedos apressados trataram de trazer você de volta pro meu mundo. "Salvar". E lá estava você... Online! Com quem? Há quanto tempo? Deu raiva. Abri sua foto. Graças a Deus, com a nova atualização do app, não corro mais o risco de te ligar sem querer ao ampliar você na tela do celular. Quem nunca passou por esse vexame, não é mesmo?

Reparei na foto nova. Você continua com aquele sorriso lindo, que nem parecia que iria desgraçar minha cabeça... Continua online... Aperto os dedos, como se dissesse a eles: “mas nem pensar! Te arranco antes de você mandar um "oi". 

Fechei os olhos pra te ver... E, de repente, lá estava você à minha frente. Sorri. Você chegou perto. Senti o cheiro da pele, passei a mão nos seus cabelos...


- Não vai dizer nada?, você perguntou.
- Abaixei os olhos rapidamente, como se tentasse fugir. E disse: “Sinto sua falta... Sinto falta do tempo que a gente perdia falando nada com coisa alguma. Você ainda se lembra? Sinto falta de ouvir sua voz pelo áudio e de rir dos seus erros de digitação, culpa do corretor, lógico. Sinto falta da nossa hora marcada do "bom dia". Do "já vai almoçar?". E até do "vou dormir mais cedo". Sinto falta... Sinto falta das músicas que você me mandava, do "vi isso e me lembrei de você", do seu "queria te ver"...

Abro os olhos, na esperança de te ver de verdade. Olho para o celular: você não está mais online. Espero. Você não volta. Espero mais: nem sinal. Respiro fundo. Olho sua foto mais uma vez, a última, quem sabe... "Ah, esse sorriso..." Vou lá no seu registro, clico em "excluir número". Claro que penso 45.558 vezes milisegundos antes, mas excluo.

Sim, eu sinto sua falta. Sinto saudade. Muita. Mas você não precisa saber. Você jamais saberá.

Beijos, meu lindo. Boa noite...


Escrito ao som de Eu não sei dançar (Marina Lima)





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Quando ela decidiu que era hora de ir...

A mão já está na maçaneta. Nas suas costas, a velha mochila, companheira de tantas aventuras. Ela abaixa a cabeça, como que resignada. "É o melhor a fazer", ela pensa, ao dar uma longa respirada. 

O lugar não lhe pertence mais, apesar da casa ser dela, ter seus móveis e suas impressões digitais em todos os lugares. Mas ela não mora mais ali emocionalmente. Havia chegado o dia de ir. A decisão ela tomou ontem, quando viu que o brilho do olhar dele já não era mais só para ela. Quando ela percebeu que havia dado a ele os seus melhores anos, ela chorou. Ele não havia merecido nenhum deles. Tudo que sonharam, tudo que construíram, tudo que desejavam... Tudo estava sendo colocado naquela gaveta chamada "nunca mais". E ela chorou de novo. De raiva, de ódio, de dor, de decepção, por frustração. Por indignação!

Como havia permitido que ele dominasse a sua vida de tal maneira que ela se esquecera de viver também para ela?!? E agora, como recuperar o tempo perdido com seu amor próprio? Como recuperar o sorriso de volta? Como?

Ela não sabia as respostas, nem sabia se queria sabê-las. A porta está ali à sua frente, a mão continua na maçaneta. Tantas dúvidas: para onde ir? Vai dar certo? O que vão dizer? O peso do novo a assustava, saber o que tinha que ser feito também. 

Então, cansada de postergar a sua felicidade, ela abriu a porta e saiu. E, a passos lentos, ela desapareceu no horizonte, e nunca mais ouviram falar dela. Não daquela mulher que saíra pela porta, porque aquela não existe mais.

Dizem que viram a "nova ela" por aí, de sorriso no rosto, de batom vermelho, cabelo lavado, usando roupas de cor. Ela esconde as feridas ainda, é verdade. Há muitas! Mas ela sabe que, em breve, serão apenas cicatrizes, e cicatrizes servem para mostrar que passamos pela guerra, nos machucamos mortalmente, mas sobrevivemos e estamos de pé para continuar a nossa história.

Livre, leve e feliz. Porque ser feliz é o que realmente importa! E ela sabe disso...


Escrito ao som de Futuros amantes (Não se afobe, não, que nada é pra já) - Chico Buarque, para uma pessoa especial, mas com muito de mim também...


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